quarta-feira, 18 de agosto de 2010

O caminho da pratica

Para sustentar e dar suporte à nossa prática, cultivamos o reconhecimento da impermanência. Para qualquer lugar que olhemos, há uma mensagem de mudança. Não importa quanta felicidade ou tristeza, raiva ou regozijo experienciemos, precisamos reconhecer sua natureza no momento, pois também irá mudar.

É como o movimento de um dançarino. No decurso da dança, a face mudará, o corpo mudará. Precisamos evitar transformar cada gesto ou movimento em uma grande situação. Ao invés disso, reconhecemos sua natureza ilusória e mutável, e aplicamos esse entendimento em todas as nossas ações. Nunca negamos a importância do não fazer mal aos outros e do fazer bem a eles, enquanto ao mesmo tempo entendemos sua qualidade ilusória e mutável. Isso nos ajuda a apreciar a preciosidade de cada momento e do curto instante que temos para estarmos juntos.

Se, entretanto, como praticantes de qualquer busca espiritual, dissermos que "Meu caminho é o melhor" e desenvolvermos um orgulho tremendo sobre nosso caminho, nosso professor e nossa prática, essa falha irá envenenar nosso fluxo mental.

Não compete a nós julgar diferentes professores e diferentes práticas. Isso é como olhar para um peixe e dizer, "Ó, esse pobre peixe, está todo molhado. Deve ser realmente frio, então, irei cuidar dele e tirá-lo da água onde ficará seco e quente". Isso não irá fazer muito bem ao peixe. Ou o peixe poderia olhar para nós e dizer "Todos esse pobres seres humanos que estão lá fora, onde é tão seco, eu gostaria de vê-los felizes na água comigo". Essa não é a resposta.

Prática significa olhar para a própria mente e reduzir os venenos que ali encontramos. Precisamos respeitar cada pessoa e a prática de cada pessoa. Se não vemos as boas qualidades de uma pessoa, a falha se encontra na nossa percepção.

Se nossos olhos não estão bons, vemos algo incorretamente e dizemos "Bem, aquela coisa tem falhas". Não é o objeto que apresenta falhas, mas a nossa vista. O que necessita de correção é nosso ponto de vista.

O caminho espiritual é como um espelho, fazemos uso dele para nos enxergarmos. Não é como uma janela, pela qual olhamos para fora, julgamos e apontamos os outros. Se o nosso rosto está sujo quando olhamos o espelho, então precisamos limpar nossa própria face, não o espelho.

A vida é curta, então, ao invés de revisar os erros que tenhamos cometido, depositamos confiança no caminho e fazemos o que precisa ser feito, agora e no futuro. Em todos os nossos relacionamentos, só há tempo suficiente para sermos pacientes, amáveis e gentis. Se sairmos por aí pensando, "Eu sou um grande meditador", mas a raiva, a inveja e o orgulho permanecem os mesmos, se não piores, o quão bom é esse tipo de meditação? O benefício vem ao reduzir o auto-apego e os venenos da mente, e ao ser pacífico, compassivo e paciente com os outros.

Assim como os pássaros se empoleiram numa árvore, reúnem-se e então partem, a vida humana é breve. A coisa mais importante nos momentos que temos é ser amável e gentil em todos eles. Não importa se fizemos um retiro de três anos ou se o nosso professor é famoso. A medida de nossa prática é encontrada em nosso próprio fluxo mental. O Buddha Shakyamuni disse que a essência de cada um dos oitenta e quatro mil métodos que ele ensinou é o treinamento da mente.

Agora temos essa breve oportunidade que é a nossa vida. Nesse momento temos a capacidade de mudar nossa mente, portanto devemos usá-la bem, para criar benefício para nós mesmos e para os outros.

Chagdud Tulku Rinpoche, nascido em 1930, pertence à última geração de mestres que herdaram os tesouros dos ensinamentos e métodos Vajrayana.

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