quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Para ter uma vida mais feliz


Você gostaria de ter à mão um pequeno manual para uma vida mais feliz?...

Pois a felicidade começa com a sua pré-disposição em ser feliz. Essa é a premissa básica. Tudo depende unicamente de sua atitude perante a vida.
Por isso, neste momento de reflexão, quero lembrá-lo de algumas atitudes simples, que tornarão a sua vida mais feliz:

A sua vida é uma jornada individual. É você somente quem tem de vivê-la, e ninguém mais. Por isso, não espere que os outros decidam por você. Assuma a responsabilidade pelo que você cria na sua vida.

O perdão é fundamental. Só que ele beneficia mais a quem o concede do que a quem o recebe. Perdoe sempre, até mesmo por coerência com a sua vontade de ser feliz.

Não nos cabe julgar a ninguém. Não temos o direito nem condições suficientes para isso. Somente quem veste o sapato sabe onde ele aperta. Então, quem somos nós para dizer quem está certo e quem está errado? Seja sempre a mão amiga que ampara e nunca a mão que castiga.

Nada é definitivo. Em tudo há a chance de recomeçar. Deus sempre nos dá uma nova oportunidade de repensar nossas decisões. Por isso, não tenha medo de errar. Pior do que isso é nem mesmo tentar.

Ninguém nos engana nesta vida. Somos nós mesmos que nos enganamos. Criamos expectativas irreais quanto às pessoas e nos decepcionamos quando elas não correspondem ao que desejamos. Aprenda a ver as pessoas como elas são e a aceitá-las e as respeitar dessa maneira.

Nada é por acaso. Se vivemos certas situações difíceis, é porque elas nos foram dadas como oportunidades para aprender o que é necessário. Pratique a aceitação daquilo que você não pode alterar e treine para mudar as coisas passíveis de serem mudadas.

Ninguém tem o poder de fazer com que nos sintamos desta ou daquela maneira, se nós mesmos não o permitirmos. Sentir é algo que pertence somente a nós mesmos. Portanto, traga novamente para si o poder de optar sempre por estar feliz, independentemente das dificuldades pelas quais esteja passando, ou das críticas que esteja recebendo.

Faça parte da “corrente da gentileza”. Sendo gentil, você estimula os outros a serem gentis. E a onda se propaga e torna o mundo melhor para se viver. Ser gentil traz felicidade – para você e para quem recebe a gentileza. Seja gentil sempre.

O Amor supera todas as dificuldades. É somente ele que conta, no balanço final. Quando existe Amor no seu Coração, quando o Amor é a sua motivação, qualquer possível dor em sua vida jamais será insuportável, as conseqüências dos seus atos jamais serão prejudiciais a quem quer que seja e as suas lições de vida serão sempre melhores aprendidas. Coloque Amor em tudo o que fizer.

E, já que tudo é uma questão da atitude que você toma, é só você quem decide se vai ser feliz.

É óbvio que você pode! E nós sabemos disso.

Gilberto Cabeggi é escritor, autor do livro
“Todo Dia É Dia de Ser Feliz”, pela Editora Gente.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Caminhar pelo desconhecido


Seguir a intuição na hora de tomar decisões, ou encontrar saídas para problemas imediatos, é algo ainda extremamente difícil para a maioria das pessoas.

Visto que aprendemos muito cedo na vida que a mente é o único conselheiro confiável, desapegar-se deste apoio e caminhar guiado por uma percepção interior exige uma mudança radical de nosso sistema de crenças.

Quanto mais confiança colocarmos em nosso guia interior, maiores serão as chances de conseguirmos relaxar e permitir que ele se manifeste em momentos decisivos.

O relaxamento, aliás, é chave para este aprendizado. Sem ele, somos tomados pela preocupação e a ansiedade e sempre desejaremos agir de acordo com diretrizes previsíveis, seguindo padrões pré-estabelecidos pelo mundo exterior.

Os animais podem nos dar exemplos incríveis desta habilidade. Eles não pensam, simplesmente seguem seus instintos e confiam na orientação que recebem, reagindo a cada situação da vida de modo natural.

Nós, humanos, sempre temos a mente para direcionar nossas ações, com base em experiências já vividas. Se as experiências passadas foram negativas, elas certamente definirão o padrão de nossas expectativas atuais.

Quebrar esse condicionamento não é uma tarefa fácil, mas podemos realizá-la com sucesso através da observação permanente de nossas reações interiores.

Se conseguirmos reagir a cada situação respondendo de acordo com a percepção que sentimos naquele momento, iremos aos poucos aprendendo a caminhar com menos ansiedade por um território desconhecido.

A experiência passada pode nos servir de guia, mas não precisa ser determinante de um padrão mecânico de resposta que nos torna robóticos e previsíveis. Podemos recusar este destino e direcionar a vida de um modo mais vibrante, onde a pulsação de nosso coração seja o guia da jornada.

"A orientação é muito sutil, delicada, frágil.

... Para andar no mundo da orientação é preciso enorme confiança porque não se anda em segurança, anda-se no escuro. Mas o escuro dá uma certa emoção: sem um mapa, sem um guia, você caminha pelo desconhecido. Cada passo é uma descoberta e não é apenas descoberta do mundo exterior.

Ao mesmo tempo, algo é descoberto dentro de você também. Um descobridor não só descobre coisas. Enquanto ele segue descobrindo mais e mais mundos desconhecidos, ele descobre a si mesmo também, ao mesmo tempo.

Cada descoberta é uma descoberta interior também. Quanto mais você sabe, mais você sabe sobre o sabedor. Quanto mais você ama, mais você sabe sobre o amante.

Não vou lhe dar um destino. Só posso lhe dar uma orientação - desperta, palpitante de vida e desconhecido, sempre surpreendente, imprevisível.

Não vou lhe dar um mapa. Só posso lhe dar uma grande paixão por descobrir.

Sim, não é preciso um mapa; é necessária uma grande paixão, um grande desejo de descobrir. Então eu o deixo sozinho. Então você segue por conta própria. Entre na vastidão, no infinito, e pouco a pouco, aprenda a confiar nele.

Coloque-se nas mãos da vida...

... Porque cada momento é isso aí. Pode ser a vida, pode ser a morte; pode ser o sucesso, pode ser o fracasso; pode ser a felicidade, pode ser a infelicidade.

Cada momento... é isso aí." (OSHO, do livro Intuição – o saber além da lógica)

Elisabeth Cavalcante

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Ilusões

É incrível a capacidade que a mente possui de criar fantasias e ilusões acerca da realidade. E uma das áreas da vida em que elas mais se manifestam é, sem dúvida, a da afetividade.
Tenho testemunhado inúmeros casos de pessoas que embarcam em situações inacreditáveis, movidas pela ilusão de que encontraram finalmente a pessoa pela qual tanto ansiaram.

E, por mais que o outro dê sinais de não corresponder a este ideal, elas simplesmente não enxergam, e continuam vivenciando a fantasia por um longo tempo. Demoram a cair na real e só o fazem depois de experimentar muito sofrimento e, em alguns casos, até mesmo serem vítimas de exploração por parte do outro.

Quanto mais ansiedade cultivam em relação ao encontro da alma gêmea ou do amor ideal, mais fácil se torna de acabarem vítimas deste tipo de fantasia, que as faz projetar em alguém o modelo imaginário.

A carência de amor e nutrição emocional em suas histórias de vida as levam a colocar em outra pessoa a única possibilidade de terem preenchidas suas necessidades afetivas. Como se a alegria, a felicidade e o entusiasmo pela vida só pudessem ser alcançados a partir do exterior.

Esta crença é uma das maiores causadoras da angústia que testemunhamos no ser humano. Somente o despertar do amor próprio e de uma autoconfiança sólida, que nos torne capazes de desfrutar de nossa solitude com serenidade, nos tornará capazes de atrair o amor que tanto desejamos.

Pois quando ele vier, não será uma forma de preencher nosso vazio interno, mas sim, um encontro de seres plenamente integrados em sua interioridade, a usufruir do prazer de compartilhar a vida sem qualquer tipo de dependência.

... Tenha cuidado com o que a sua mente lhe diz. Não tenha tanta confiança nela. E nós nunca duvidamos. Podemos duvidar de todos, mas nunca duvidamos da nossa própria mente.

E foi a sua mente que o levou a este estado em que você está. Se você está num inferno, sua mente que o levou a esse inferno, e você nunca duvida desse guia. Você pode duvidar de qualquer professor, de qualquer Mestre, mas nunca duvida da sua mente. Com fé inabalável, você vive com sua mente como se ela fosse o guru. E sua mente o trouxe para toda confusão, para a miséria que você é.

Se você for duvidar de alguma coisa, duvide primeiro da sua própria mente e, cada vez que sua mente lhe disser algo, pense duas vezes.

....Você não tem tempo de meditar - de dar uma hora para a meditação. Pense duas vezes. Pergunte outra e outra vez à mente; 'Será que é o caso de eu não ter tempo?

'Eu não vejo assim. Nunca vi um homem que não tivesse tempo suficiente. Vejo gente jogar cartas e diz: 'Estamos matando o tempo.' Vão ao cinema e dizem: 'Que fazer? ' Eles estão matando o tempo, fofocando, lendo mil vezes o mesmo jornal, falando das mesmas coisas que já falaram a vida inteira e dizem: 'Não temos tempo'. Para coisas desnecessárias eles têm tempo. Por quê?

Com uma coisa desnecessária a mente não está em perigo. No momento em que você pensa em meditação, a mente se torna alerta. Agora você vai se dirigir para uma dimensão perigosa, porque meditação significa morte para a mente.

Se você se dirigir para a meditação, cedo ou tarde sua mente vai se dissolver. A mente se torna alerta e começa a perguntar 'A que horas? ' E, mesmo que haja tempo, coisas mais importantes precisam ser feitas. Primeiro, adie até mais tarde. Você pode meditar a qualquer momento. O dinheiro é mais importante. Primeiro junte dinheiro depois medite nas horas vagas. Como você pode meditar sem dinheiro? Por isso, preste atenção ao dinheiro; e medite mais tarde.

Você sente que a meditação pode ser adiada facilmente, porque ela não está relacionada com a sua sobrevivência imediata. O pão não pode ser adiado: você morrerá! O dinheiro não pode ser adiado: é essencial para suas necessidades básicas. A meditação pode ser adiada. Não está ligada à sua sobrevivência: você pode sobreviver sem ela. Na verdade, você pode facilmente sobreviver sem ela.

No momento em que mergulhar fundo na meditação, você não sobreviverá, neste mundo pelo menos. Você desaparecerá. Desaparecerá do círculo desta vida, desta roda. A meditação é igual à morte, por isso a mente fica com medo. ' Adie', ela diz. E você pode seguir adiando ad infinitum. Sua mente está sempre dizendo coisas como esta, e não pense que estou falando de outras pessoas. Estou falando especialmente de VOCÊ. Tenho encontrado muita gente inteligente que fica dizendo coisas não-inteligentes sobre meditação.

Eu estava numa grande cidade e o coletor dessa cidade veio encontrar-se comigo às 11 horas da noite. Eu já ia para a cama e ele veio e disse: ' Não! É urgente. Estou desesperado. É uma questão de vida ou de morte. Dê-me pelo menos meia hora. Estou muito desesperado. E estou tão frustrado que alguma coisa pode acontecer no meu mundo interior. Meu mundo exterior está totalmente perdido.

'Eu lhe disse ' Venha amanhã às 5 horas.' Ele respondeu: 'Isso não é possível.' Era uma questão de vida ou de morte, mas ele não podia se levantar às cinco da manhã. Ele disse: 'Não posso. Nunca me levanto assim tão cedo.' 'Tudo bem', eu lhe disse, então, venha às 10 horas.' Ele respondeu: ' Isso também vai ser difícil porque às 10:30 horas preciso estar no meu escritório'.

Ele não podia tirar um dia de folga e era uma questão de vida ou morte. Ele não era um homem ignorante. Era bastante inteligente. Esses truques eram muitos inteligentes.

Portanto, não pense que a sua mente não está fazendo os mesmos truques. Ela é muito inteligente. E, por pensar que a mente é sua, você nunca duvida. Ela não é sua, é apenas um produto social. Não é sua! Foi-lhe dada, foi-lhe impingida. Você foi ensinado e condicionado de um determinado jeito. Desde criança, sua mente foi criada pelos outros - pelos pais, pela sociedade, pelos professores. O passado está criando sua mente, influenciando sua mente. O passado morto está influenciando sua vida continuamente. A mente está tão intimamente ligada a você, a separação é tão pequena, que você se torna identificado com ela.

Você foi influenciado, engajado, preso numa condição particular e então a vida seguiu aumentando essa mente e essa mente se tornou pesada, sobrecarregando-o. Você não pode fazer nada; a mente continua a influenciá-lo à sua moda.

Suas experiências vão sendo acrescentadas à sua mente. Constantemente o seu passado está condicionando o seu momento presente. Se eu lhe digo algo, você não pensa a respeito disso de uma maneira nova, de uma maneira aberta. Sua velha mente, seu passado, entra no meio e começa a falar e debater a favor ou contra.

Lembre-se, você não é sua mente. Você não é seu corpo. Quem é você?Ou a pessoa está identificada com o corpo ou com a mente. Você pensa que é jovem, pensa que é velho, pensa que é hindu, que é jaina. Você não é!Você nasceu como consciência pura.Tudo isso são prisões.
(Osho)

Elisabeth Cavalcante

Olhar da Psicologia - A arte de ser solitário

Cresce o coro dos descontentes, de pessoas queixando-se da solidão. Esquecem que esta é uma condição primária do ser humano e que, ainda assim, é possível ser feliz.

A idéia que a maioria das pessoas faz da solidão é de um sentimento doloroso que nos acomete em determinados momentos. Aquela sensação de mal-estar que nos invade na sexta-feira à noite ou no domingo à tarde quando estamos sozinhos em casa, sem programa. Ou é o estado em que um amigo se encontra porque está passando por um período difícil, depois de uma separação.

Na verdade, a solidão é uma condição imanente ao homem, faz parte da vida. Só que, em certos momentos, a percebemos mais agudamente e não sabemos como lidar com ela. A solidão parece estar longe quando mantemos um relacionamento muito estreito, muito íntimo, com alguém que amamos, com quem temos bastante afinidade e pontos de contato. Ou durante uma relação sexual, em que dois são um e sentimos que é possível uma união total. Mas, cedo ou tarde, chega a hora de encarar a conclusão inevitável: cada um é um.

Muitas vezes nos percebemos como parte de um todo – de uma família, de um grupo de amigos, de uma comunidade. Mas chegará o ponto em que tomaremos consciência de que a realização pessoal depende das próprias possibilidades. Em suma, por mais que se viva junto de quem se ama, por mais que se interaja socialmente, não será possível evitar, lá no fundo, a certeza de ser só.

Entender o que é um ser ajuda a compreender a solidão. Ser é tudo aquilo que tem vida. Ao contrário de um objeto inanimado, o homem tem consciência desse ser. Uma pedra pode sofrer solidão? Não pode, porque não tem consciência de que existe outra pedra.

Com o outro ou em grupo, procuramos suprir as carências e a necessidade de nos sentirmos amados, desejados. Mas por estarmos com o outro ou com outros não deixamos de ser fundamentalmente sós. Às vezes nos perguntamos como a solidão nos apanhou. O que aconteceu foi que, nessas circunstâncias, entramos em confronto com a solidão. Não que ela não tenha existido pela manhã, no escritório, ou na véspera, numa festa. Sempre esteve ali. O curioso é que as pessoas que se queixam de viver muito sós falam como se fosse um problema pessoal, e não uma característica de todos nós. Só quando o outro nos vê e nos reconhece, sentimos amenizar o peso da solidão, em função da convivência e da integração.

Uma criança pode brincar numa sala enquanto a mãe, no outro canto, faz tricô. Cada uma nas suas tarefas, concentrada nas suas coisas. Mas se a mãe sai, a criança inquieta-se, quer que ela volte, segue-a, precisa dela para lhe aliviar o peso da solidão. O mesmo acontece já com o bebê. Mesmo alimentado, limpo, confortável, ao ficar sozinho, chora, quer a interação com outras pessoas, não agüenta a solidão. O próprio adulto com freqüência não aguenta o peso da solidão. Há momentos em que se torna premente procurar o outro, mesmo que o outro seja representado por uma voz desconhecida ao telefone, por uma carta, uma lembrança...

Quem é que não sentiu essa espécie de vazio alguma vez, sozinho em casa? A televisão não distrai, a música, em vez de consolar, lembra situações em que havia pessoas queridas por perto, torna-se impossível concentrar-se na leitura de um livro. Mas basta telefonar para alguém e falar uns minutos para que mude esse panorama sombrio.

Última opção – Se a solidão se transforma num processo contínuo e doloroso, pode mesmo culminar em suicídio, um ato de desespero quando não se vê nenhuma outra saída para uma situação insuportável. Então, a morte apresenta-se como única alternativa para o sofrimento, para a sensação de não agüentar o peso da própria vida e da condição humana. No suicídio, em geral, entram muitas variáveis, desde problemas pessoais, conjugais, com os filhos, até o desemprego e outras situações provocadas pelas oscilações sociais. Mas a solidão é uma causa sempre presente.

Aparentemente, algumas pessoas convivem sempre muito bem com a solidão. Mas, também neste caso, as aparências podem enganar. Como uma mulher cujo marido não se cansava de cobri-la de carinho e atenção e, para surpresa de todos, antes de suicidar-se, deixou um bilhete dizendo que não agüentava mais a solidão. Ou os muitos religiosos que, segundo se costuma pensar, vivem só e muito felizes, quando nem sempre é assim. Há pouco tempo, ao entrar em contato com os membros de uma ordem religiosa, ouvi um padre descrevendo como se sentia aos domingos. Depois de rezar a missa para a comunidade e receber cumprimentos e elogios, toda a gente ia embora. E ele? Ia almoçar, também, mas sozinho.

No outro extremo, posso citar o exemplo de alguém no auge da popularidade, do sucesso, com uma intensa atuação social. A cantora Janis Joplin dizia que, quando cantava no palco, tinha a impressão de estar fazendo amor com os milhares de espectadores da platéia. Só que o show acabava e ela ia dormir sozinha. Não era um problema só dela, mas algo que diz respeito à condição humana. Chega sempre o momento de ir dormir sozinho, de ficar cara a cara com o próprio sofrimento, a própria angústia, a própria ansiedade.

Entrar em contato com a solidão não é fácil. Mas após compreendê-la, ao constatar que cada um é único, com sua própria história, percurso, biografia, sua maneira pessoal de procurar sentido para a sua vida, também se percebe estar aí a grandeza e a beleza da condição humana.

Há momentos em que as perspectivas da condição humana se perdem e o sofrimento vence. São períodos críticos, de perdas reais ou aparentes. Um exemplo comum é a terceira idade, em que se deixa de contar com muitos papéis e atividades.

Ressaca moral – Nem sempre são felizes ou bem-sucedidas as tentativas de aliviar a solidão a qualquer custo. Hoje, muitas pessoas dispostas a procurar companhia encontram alguém num bar, saem, conversam e vão fazer amor. E depois? E a ressaca moral que isso deixa? Se essa pessoa tiver alguma lucidez perceberá que, para suprir uma carência, procurou alguém que não tinha nada a ver consigo. Resultado: uma carência ainda mais sentida, a sensação de solidão crescendo e o vazio à volta ficando maior. Ela pode justificar-se argumentando que só queria mesmo prazer, satisfazer a excitação física. Mas se fosse só pelo prazer físico, o outro seria até dispensável, a masturbação bastaria. Mais correto é pensar que essa pessoa procurou outra para sentir, nem que fosse por breves momentos, que tinha significado para alguém. Tanto isso é verdade que nem uma prostituta vai direto ao ato sexual. Ela faz o possível para que o sujeito que a procura passe a sentir-se desejado e viril. Porque, de alguma forma, ela sabe que aquele indivíduo não busca só satisfação física.

Quando o sentimento de solidão ameaça torna-se aniquilador, quando se transforma numa sensação que aprisiona o coração e a alma, o remédio é ir intensamente encontrar pessoas e situações, mergulhar por inteiro num novo projeto, numa empreitada. Pode ser desde pintar um quadro a assumir uma atuação política duradoura. É preciso sair, de alguma forma, de si.

É bom ter sempre claro que solidão (ser só) é diferente de isolamento (estar só). Mas situações de isolamento social podem contribuir para tornar penosa a sensação de ser só. Se nos encontramos numa cidade onde não conhecemos ninguém a não ser o garçom do restaurante ou o cobrador do ônibus, ficamos sem contatos sociais. Aí, pode ser mesmo muito forte a consciência de ser só. Exemplos de sofrimento pelo isolamento social podem estar ao nosso lado e passar despercebidos. Como o da empregada doméstica, proibida de freqüentar o ambiente social da própria casa onde mora.

As várias saídas de si mesmo mostram ao indivíduo que ele não é apenas um ser com sofrimentos, mas também com significado. É o sentido da própria existência que se procura quando se quer chegar a uma realização cada vez maior, quando se quer crescer afetivamente e emocionalmente, contrapondo esses ganhos aos sofrimentos que a vida traz. E nessa busca não há receitas nem modelos bons para todos. Até porque a saída muda em cada fase da vida. Quando um adolescente anda por aí fazendo um enorme barulho com a sua moto, está dizendo: “vejam, eu existo, tenho um significado”. Mas essa significação será muito diferente para o empresário que já tem dez empresas e luta para chegar às vinte ou para o político cuja meta é ser presidente da República.

É isso que esse sofrimento inerente ao ser humano tem de positivo. Ele é a mola que nos impulsiona no rumo de outras possibilidades e realizações, ou da construção de novas saídas e alternativas que gerem transformações, não só pessoais, como no mundo.

Não é desprezível o fato de um número cada vez maior de pessoas se queixar da solidão. Pelo menos em parte, deve ser devido ao empobrecimento pelo qual passam as relações interpessoais, talvez pelas condições da própria vida moderna, que aglomera indivíduos sem a menor afinidade entre si. Ao mesmo tempo, o crescimento da tecnologia não trabalha exatamente a favor de relações. Nas cidades do interior, toda a gente ainda se conhece. Nas grandes cidades, quem mora num prédio não sabe quem são os vizinhos de porta; cada um conserva-se insensível às alegrias e ao sofrimento do outro. Cada um se fecha em seu próprio sofrimento e ali fica. Com isso, alimenta-se a sensação de que todos estão ótimos, só eu é que sofro.

E se vamos ao encontro do sofrimento do outro e ele bate com a porta na minha cara, me rejeita? Parece que ninguém quer nada com ninguém. Essa aparente hostilidade pode ser o estímulo para fazer alguma coisa a favor da transformação das relações, de maneira a quebrar as barreiras da solidão. O que pode ser um ótimo começo para quem dá a sua contribuição pessoal ao mundo e, assim, faz com que a sua própria vida ganhe um sentido maior.

Valdemar Augusto Angerami-Camon

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Ser psicóloga


Ser psicóloga é uma imensa responsabilidade.
Não apenas isso, é também uma notável dádiva.
Desenvolvemos o dom de usar a palavra, o olhar, as nossas expressões e até mesmo o silêncio.
O dom de tirar lá de dentro o melhor que temos para cuidar, fortalecer, compreender, aliviar...
Ser psicóloga é um ofício tremendamente sério, mas não apenas isso, é também um grande privilégio.
Pois não há maior, que o de tocar no que há de mais precioso e sagrado em um ser humano: seu segredo, seu medo, suas alegrias, prazeres e inquietações.
Somos psicólogos e trememos diante da constatação de que temos instrumentos capazes de favorecer o bem ou o mal, a construção ou a destruição.
Mas ao lado disso, é que desfrutamos de uma inefável bênção que é poder dar a alguém o toque, a chave que pode abrir portas para a realização de seus mais caros e íntimos sonhos.
Quero, como psicóloga aprender a ouvir sem julgar, ver sem me escandalizar e sempre acreditar no bem.
Mesmo na contra-esperança, esperar.
E quando falar, ter consciência do peso da minha palavra, do "conselho", da minha sinalização.
Que as lágrimas que diante de mim rolarem, pensamentos, declarações e esperanças testemunhadas, sejam segredos que me acompanhem até o fim.
E que eu possa ao final ser agradecida pelo privilégio de ter vivido para ajudar as pessoas a serem mais felizes.
O privilégio de tantas vezes ter sido única na vida de alguém que não tinha com quem contar para dividir sua solidão, sua angústia, seus desejos, seus sonhos.
Alguém que sonhava ser mais feliz, e pôde comigo descobrir que isso só começa quando a gente consegue realmente se conhecer e se aceitar.

sábado, 25 de setembro de 2010

Como desenvolver autoconsciencia

Viver é um dom divino e maravilhoso. Temos experiências que sempre nos permitem crescer e evoluir como seres humanos.

Para que possamos nos desenvolver como seres humanos e, por conseguinte, colaborar na evolução de nossa própria espécie, precisamos, primeiramente, nos desenvolver a nós próprios, como indivíduos.

O nosso desenvolvimento como indivíduos passa pela consciência de quem somos nós, enquanto pessoa, ou seja, desenvolver o autoconhecimento.

Para que eu possa distinguir quem sou eu, preciso me enveredar na trilha do questionamento e descobrir porque faço determinadas escolhas.

Quais são minhas necessidades físicas?

Do que eu gosto?

Gosto mais do doce ou do salgado?

Gosto mais do calor ou do frio?

Quais são minhas necessidades emocionais?

O que é o amor para mim?

Como entendo que o que sinto é amor?

Como decodifico atitudes do outro que faz com que eu me sinta amado?

Essas são as nossas necessidades básicas enquanto seres humanos. Portanto, este é o primeiro passo para o autoconhecimento como indivíduos.

Precisamos nos colocar numa atitude como se fossemos crianças novamente, pois somente a criança pergunta com muita simplicidade os por quês da vida.

Lembra-se quando você era criança e para tudo você perguntava Por quê?, até que algum adulto impaciente respondia Porque sim. ou Porque não, e mandava você parar de perguntar? Aí, você tinha que reprimir sua curiosidade natural de querer saber como que a vida funcionava e porquê funcionava daquela forma que se lhe apresentava. Acho que você nem se lembra mais disso. Já faz tanto tempo!

Entende porque devemos resgatar nossa criança interior?

Devemos nos voltar para nós mesmos, desreprimir nossa criança interior. Dar vazão à nossa curiosidade natural. Não ter vergonha de dizer não sei, pois afinal, não nascemos sabendo mesmo!

Como seres humanos estamos em constante aprendizado, somo eternos aprendizes – a começar por nós mesmos. Precisamos aprender quem somos e como funcionamos, bem como a vida, a sociedade, as pessoas à nossa volta... tudo!

E, conforme vamos passando pelo que chamamos de processo de auto conhecimento, vamos montando como que um quebra-cabeça ou uma colcha de retalhos, um 'path work', que somos nós mesmos.

O mais surpreendente deste processo é que não temos um projeto – a não ser ser nós mesmos! – para saber como este Eu será construído. Não temos a figura de modelo para saber como ficará depois de pronta, apesar de tentar usar algumas pessoas que entendemos como autoridades para seguir com modelo – como o pai, a mãe, o irmão ou irmã mais velha – mas nem sempre funciona.

Neste processo vamos nos construindo... encaixa aqui... encaixa ali uma peça...

Eis a grande aventura deste processo: Todas as peças estão dentro da gente, mas não estão na composição e conformação que nossa consciência imagina. Por isso sempre ficamos surpresos – agradavelmente ou não – com o que vamos descobrindo de nós mesmos.

Jung nos diz que trazemos tudo dentro de nós. Toda a história da humanidade está armazenada no nosso inconsciente. Toda a nossa história de vida está lá registrada, como um grande computador. Basta disposição e interesse em acessar tais dados.

Para Jung a história da humanidade estaria arquivada no Inconsciente Coletivo. Uma parte de difícil acesso consciente, pois se localiza na parte mais profunda do nosso inconsciente.

Já nosso Inconsciente Pessoal, onde estão contidos todos os fatos vividos por nós, já é um pouco mais fácil acessá-lo, mas também precisa de interesse e dedicação porque lá, no nosso inconsciente, os dados não ficam arquivados dentro de uma ordem lógica e cronológica que conhecemos.

No nosso consciente tudo tem começo, meio e fim. Precisamos que seja assim para que possamos nos entender, não só conosco mesmo como também com os outros. Assim simplifica a vida de todo mundo, pois todos sabem, por exemplo, que Janeiro é depois do Natal e que vem antes de Fevereiro, e que neste último mês, normalmente, acontece o Carnaval aqui no Brasil. Então, quando eu falo que viajei em Janeiro, para alguém já está subentendido que este fato que estou relatando foi depois do Natal e antes do Carnaval. Viu como simplificamos a comunicação com o outro?!

No nosso inconsciente, a lógica é outra e exige outro tipo de raciocínio. E isso normalmente dá trabalho. O exemplo que dou: quando nos dispomos a aprender inglês, ou qualquer outra língua estrangeira, no começo costumamos ter certa dificuldade em aprender a língua, mas quando pegamos o raciocínio da língua começamos a entender e aí podemos aprendê-la. É quase mágico!

Já experimentou esta magia?

O segredo é parar de querer entender a lógica da língua estrangeira pela lógica da nossa língua portuguesa.

O mesmo acontece quando vamos nos relacionar com o nosso inconsciente. Não dá para querer entender sua lógica através da lógica da consciência. Da mesma forma que a consciência tem seus códigos para promover um senso de coerência na vida das pessoas, o inconsciente também tem seus próprios códigos. Quando nos despimos dos nossos pré-conceitos racionais – ditados pela consciência – para querer entender tais códigos, estabelecemos uma relação muito harmoniosa com ele.

Para Jung, o inconsciente sempre procura comunicar-se com nossa consciência seja através de sonhos ou de fantasias. O que precisamos é aprender a decodificá-los.

Num relaxamento, na meditação, na auto-observação ou na psicoterapia conseguimos estabelecer contato com nosso inconsciente.

Esta é a grande viagem (entrar contato com o inconsciente), que nos proporciona o autoconhecimento! E, para o desenvolvimento da autoconsciência são necessárias no mínimo três qualidades: o interesse, a vontade e a disciplina.

Estabelecer contato com nosso inconsciente é, então, uma grande aventura. A aventura de conhecer, em nós, qualidades escondidas de nós mesmos, podendo, assim, nos transformar em pessoas mais plenas de recursos aplicáveis em nossa vida, tornando-nos mais satisfeitos conosco mesmos e mais felizes com a nossa própria vida.

Que tal nos aventurar nessa viagem fascinante?

Maria Aparecida Diniz Bressani
mariahnressani@yahoo.com.br
somostodosum

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Psicoterapia não é coisa pra louco

Fico estupefata que, mesmo estando no século 21, com uma gama de informações extraordinária disponivel, ainda haja tanto preconceito e mal entendido sobre o que seja e para quem seja psicoterapia.

Existe ainda grande resistência por parte das pessoas - mesmo por aquelas que buscam sites, livros ou qualquer outro veículo de auto-ajuda - sobre o fato de entrarem num processo de psicoterapia.

O que ocorre comumente é uma pseudo-precupação, onde a grande ânsia é apenas em tirar a angústia, a ansiedade, o mal estar ou qualquer outro sintoma e não em resolver, efetivamente, o que causa tais sintomas.

Quando sugiro para alguém que seria bom que fizesse psicoterapia sempre vem aquela pergunta: "Você acha?...", juntamente com aquele olhar interrogativo como que completando a pergunta "... que eu preciso?" Como se houvesse na minha indicação alguma insinuação de que a pessoa é louca ou coisa parecida.

E devido a este preconceito a pessoa vai se arrastando pela vida e arrastando as situações em que vive, sem conseguir resolvê-las com eficácia e a seu favor.

Eu até entendo que o que está por trás deste preconceito em relação à psicoterapia é o medo do encontro consigo próprio, de encarar-se e, consequentemente, de perceber os seus equívocos e suas ilusões sobre si mesmo. Sei também que, além disso, a maioria das pessoas não foi educada para se perceber e se levar a sério (a nossa cultura ainda tem dificuldade em olhar uma criança como alguém perceptivo!).

Outro grande problema que impede as pessoas de ir na busca do processo de psicoterapia é a baixa disponibilidade para si próprio - justamente por não se levarem a sério e às suas reais necessidades.

É difícil a pessoa colocar-se disponível para si mesmo, pois tem receio de cortar os fios da teia na qual está preso por tem medo de cair num vazio maior no qual já sente estar. Por isso, cria justificativas lógicas e plausíveis (racionalizações) que, na maioria das vezes, a coloca como vítima da própria vida, sem se dar conta da sua cota de responsabilidade sobre a mesma.

Existe por parte das pessoas, de uma forma geral, uma séria dificuldade em entender que psicoterapia é algo que tem como função ajudá-las no processo natural da vida, que é se desenvolver. Então, assim, ainda existe um certo constrangimento quanto ao porquê da necessidade da psicoterapia.

Nascemos com um "projeto de vida", que muitas pessoas chamam de "destino". E qual seria este senão o próprio desenvolvimento da consciência e o colaborar no desenvolvimento da nossa própria espécie?

Queiramos ou não esses desenvolvimentos acontecem (da consciência e da espécie) da mesma forma que o desenvolvimento físico também se dá.

O processo de psicoterapia ajuda no curso natural do desenvolvimento da consciência, elevando-a mais rapidamente e, muitas vezes, além da média; eliminando, desta forma, o sofrimento e as angústias vividas ao longo da vida. Isto não significa que não haverão mais problemas, mas, sim, que a pessoa aprende a lançar um novo olhar sobre si e sobre a vida, proporcionado-se satisfatória saúde emocional e boa qualidade de vida.

A psicoterapia é a possibilidade de encontrar-se com seu verdadeiro Eu - que Jung chamou de Self. É a possibilidade de desmanchar as ilusões e as racionalizações sobre seus comportamentos, além de poder compreender as reais motivações que os geraram. É a possibilidade de redirecionar positivamente o fluxo de energia da vida - que na maioria das vezes está represado ou canalizado para situações que são negativas ou até mesmo destrutivas e não proporcionam a verdadeira sensação de bem estar e realização pessoal. É a possibilidade de sair da teia, um emaranhado de fios de "verdades absolutas" estabelecidas (que não o foram, necessariamente, por si próprio e sim, muitas vezes, "herdadas" da família, via educação).

Normalmente, quando essas "verdades" são herdadas e vividas, ou a pessoa segue-as na íntegra, ou faz exatamente o contrário, por assim acreditar que está seguindo o próprio caminho (o que não é verdade, pois os parâmetros continuam sendo os familiares); sobrando a sensação de insatisfação e de vazio constante.

Acredito no trabalho da psicoterapia, justamente porque também já estive do "lado de lá" - no meu próprio processo de psicoterapia - além do meu trabalho como profissional, onde sou testemunha do bem que este processo de desenvolvimento da autoconsciência promove na qualidade de vida de uma pessoa.

Por isso, acredito que psicoterapia é uma modalidade de processo de autoconhecimento que serve para todos, em larga escala, sem restrição de idade ou crença.

A psicoterapia promove ampliação e expansão da consciência sobre si mesmo - elevando o nível de autoconsciência - sobre seu verdadeiro Eu - e, consequentemente, sobre suas reais necessidades e motivações.

Essa ampliação e expansão da consciência levam a um caminho de luz; pois, consciência é exatamente isso: Luz.

Enquanto que quando vivemos ignorantes de nós mesmos (sem o sabermos!), vivemos nas sombras, se não, na própria escuridão; andando pela vida como sonâmbulos, com comportamentos - movimentos, ações e reações – no automático.

A psicoterapia é o caminho para o desenvolvimento da luz na própria vida, ou seja, serve como canal para que a pessoa descubra dentro de si todo um potencial ainda desconhecido de si mesma e, a partir daí, aplicá-lo na própria vida. Afinal, só podemos utilizar o que sabemos que temos!

Apenas quando descobrimos nossos potenciais podemos administrar com tranqüilidade nossas limitações individuais e nos aproximar de nós, enquanto seres humanos que somos.

Apenas quando dissipamos nossos equívocos e ilusões sobre nós mesmos é que podemos nos levar a sério e aí, sim, colocamo-nos à nossa disposição - nos tornamos auto-disponíveis e mais abertos para a vida e para as pessoas.

Apenas quando conhecemos nossos recursos (tesouros escondidos!), conseguimos tranqüilizar nossa a ansiedade, eliminando o medo do futuro.

Apenas quando podermos olhar nos nossos olhos - sem medo do que encontraremos no fundo deles - é que conseguiremos viver uma vida mais pessoal e plena, com aplicação adequada dos nossos melhores recursos, proporcionando-nos uma real e boa qualidade de vida, impregnada de amor e respeito.

E com isso todos ganhamos: nós mesmos, as pessoas à nossa volta e a própria humanidade, da qual fazemos parte.

Então, sob este prisma, como alguém pode sequer pensar que psicoterapia é "coisa pra louco"??

Maria Aparecida Diniz Bressani
mariahbressani@yahoo.com.br
somostodosum

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Que ser humano voce vai querer ser no futuro?

Vivemos numa sociedade capitalista que valoriza o ter e poucos conseguem preocupar-se com o ser. Acredito que nascemos a partir de um ciclo de evolução constante, estamos vivos para evoluir como seres humanos.
 
A vida torna-se mais saborosa quando conseguimos elevar nossos sentimentos e sair da mesmice diária, rotineira, de cumprir obrigações sem refletir em como e por que nossas atitudes são realizadas.
 
Você já pensou que ser humano você vai querer ser no futuro?
 
Para responder a essa pergunta, talvez você precise de outras.
 
Que ser humano você é hoje? O que você conhece sobre você mesmo? Quais são seus objetivos e metas? Quais são seus medos, desejos, sentimentos por si e pelos outros?
 
Pare e pense nisso por um momento.
 
Como vai sua auto-estima? E sua tolerância, sua capacidade ética, seu respeito com o outro, seu auto-respeito, seu equilíbrio emocional, sua maturidade afetiva, seus amores, seus desafetos? Como você resolve suas dores? Enterra a cabeça no travesseiro e chora escondido? Não chora... Você é daqueles que conta a todos sobre sua vida indiscriminadamente, dividindo todos seus sentimentos e pensamentos ou mesmo do tipo que pensa tanto antes de dividir seus sentimentos que acaba muitas vezes escolhendo a pessoa errada para compartilhá-los? Pensa antes de agir, age antes de pensar... é ponderado ou impulsivo, respeita o espaço do outro ou é invasivo?
 
Sabe ouvir ou só sabe impor sua fala? É tímido, passivo ou arrogante e imperativo? É autoritário ou tem autoridade? É amado? Ama-se? É dependente emocional, co-dependente, independente ou solitário?
 
Quem é você?
 
Como essa sua forma de ser, agir, pensar sentir, ajuda sua vida e como te atrapalha? Traz a você mais dor ou mais amor... alegria ou sofrimento? Que tipo de ajuda você precisaria hoje para se melhorar como pessoa?
 
Essas são algumas das inúmeras perguntas que podemos nos fazer na busca de um entendimento verdadeiro sobre o nosso eu; é claro que coloquei aqui apenas alguns extremos, pois meu objetivo é apenas estimular a reflexão, mas temos que considerar inúmeras variáveis entre essas posições.
 
O ser humano é tudo isso, múltiplo, genial, idiota, limitado e infinito... tudo ao mesmo tempo, numa trama dinâmica e complexa. A genialidade do ser humano está em ter a capacidade de se perceber, avaliar sua identidade e buscar seu aprimoramento e seu desenvolvimento.

Saber o ser humano que você deseja ser no futuro implica em ter noção de quem você é hoje e em ter um objetivo a ser alcançado.
 
O advento da escolha é conhecido como livre arbítrio. É como se pudéssemos, a qualquer momento de nossas vidas, voltarmos nossa atenção para nosso passado, refletindo sobre a história pessoal que estamos construindo; nosso presente, elaborando nossas atitudes e sentimentos e para nosso futuro, planejando, direcionando e redirecionando nossa vida a partir do aprendizado adquirido nesta jornada, num movimento dinâmico.
 
A vida é uma estrada que pode ser curta ou comprida, só depende de como você responde a essa pergunta inicial. A resposta lhe dará os parâmetros que conduzirão sua jornada, pois cria a possibilidade de entendimento de seu espaço no mundo como indivíduo, como pessoa em todos os seus papéis e dimensões e acima de tudo amplia o humano que está em nós.
 
A companhia que você terá durante este caminho também dependerá desta resposta. Seu prazer, sua felicidade ou sua dor dependem deste grau de consciência que você desenvolve sobre você mesmo.
 
Pense nisso.

 
Sirley Bittu

O jogo da sedução


A sedução é a expressão da sexualidade, através da sensualidade. Trata-se do assumir que é alguém que tem desejos e que é passível de ser desejado. Sedução implica em ousadia, auto conhecimento, confiança, segurança, desinibição. É um jogo relacional onde você dá sinais de que se interessa pelo outro e torna-se alvo de sua atenção. Todas as outras atitudes e comportamentos reforçam ou não o sinal de interesse. Se é correspondido pode avançar alguns passos e vice versa tudo depende de seu objetivo, preparo emocional e de sua capacidade para tolerar frustração.
 
Culturalmente a sedução masculina sempre foi mais explícita e a feminina mais escondida. Para os homens sedução era sinônimo de virilidade e para as mulheres de promiscuidade e desvalor.
 
Com as mulheres conquistando ativamente seu espaço na sociedade e no mercado de trabalho, consequentemente assumiram mais seu poder e com ele sua liberdade de ação e atuação de seus desejos, inclusive sexuais.
Hoje a mulher também escolhe, não é apenas escolhida, a relação de sedução é mais clara, ela não precisa ou não deseja ficar mais no papel de chapeuzinho vermelho ou da bela que dorme, enquanto seus desejos aguardam ser despertos. Hoje a mulher está mais para Mulher Gato (no filme I’m Batman) sensual, forte, intrigante e ágil. Aquela velha fórmula de mulher como sinônimo de atitudes passivas e homem de comportamentos ativos, a muito não reflete a realidade social.

O homem também mudou, não é apenas o príncipe encantado que tem que ser belo, rico, forte e sarado em seu cavalo branco, ele já aceita dividir a conta do restaurante ou ajudar nas tarefas domésticas, sem achar que está perdendo sua masculinidade.
 
E o medo? O que fazemos com ele? Como sustentar um olhar sem suar frio, como desmontar o mito - inconsciente, na maioria das vezes, mas algumas vezes consciente, fruto de preconceitos culturais - que paquerar não é sinônimo de promiscuidade, não é coisa de mulher que não presta, ou de homem que não vale nada?! É verdade!! Alguns homens também sofrem com isso.
 
O medo de se expor se correlaciona com o medo a crítica, a opinião e avaliação alheia. Algumas pessoas, geralmente as mais tímidas, carregam um equívoco importante, deduzem que ser o bom moço ou a boa moça significa não desejar nada, apenas esperar ser desejado ou escolhido, e consequentemente quem deseja estaria se oferecendo descaradamente.

Novamente caímos na idéia de bom e mau, mocinho e bandido. O ser humano é bom e mau, temos as duas coisas , nossa saúde vem da relação que estabelecemos com o bom e com o mau que existe dentro de nós. Esta relação é guiada ela noção de respeito que desenvolvemos por nós e pelos outros, e por nosso entendimento de nossos direitos e deveres como seres vivos e seres sociais.
 
Desejar é natural e humano, o entendimento que desejo é algo feio ou imoral advém de uma sociedade baseada nos contos de fada, na separação simplista de pureza e impureza, bom e mau, céu e inferno, que se afasta da realidade humana e pior, onde a sexualidade torna-se feia e suja. Obviamente quando me refiro a jogos de sedução, o estou considerando entre pessoas adultas e autônomas, e não quando a sedução é usada contra crianças ou pessoas indefesas, nestes casos, considero um ato absurdo e covarde.
 
Vamos desmistificar isso, paquerar como disse antes, significa mostrar interesse , certo? Este interesse primeiramente será de conhecer o outro, não necessariamente é um pedido transe comigo, e mesmo que seja, caberá a você decidir se quer ou não.
 
Torna-se mais fácil arriscar quando não se tem nada a perder e difícil quando não se sabe como reagirá a uma negativa, se você acredita em si e em sua capacidade de ser aceito, amar e ser amado, em seu taco, o medo torna-se menor.
 
Quando vemos um homem bonito flertando com alguém dizemos: ele sabe que é bonito... quando o homem não é tão bonito, mas age com segurança dizemos: bonito ele não é mais tem um q à mais... é um homem charmoso... e com as mulheres é a mesma coisa.
 
Algumas pessoas dizem não sei paquerar ou quando mais velhas...passei dessa fase, não tenho coragem, seria ridículo. O que realmente está em jogo nessas situações é o medo, medo de não agradar, medo de não ser aceito, de não ser interessante, não ser inteligente o suficiente, bonito o suficiente, magra ou suficiente. A diferença entre os paqueradores dos primeiros exemplos e estes é como você lida com seu medo, é claro que o bonitão ou o não tão bonito também têm medo, mas a diferença é que arriscam, ousam, tentam, usam sua autoestima como base.
 
Nossa autoestima é responsável por vários comportamentos que implicam em segurança pessoal, portanto, procurar cuidar de sua saúde emocional conhecer melhor suas características pessoais, tanto as boas como as más, será sempre o melhor caminho para seu desenvolvimento e para melhorar sua qualidade de vida.
 
O jogo da sedução pode ser algo lúdico e fortalecedor da auto estima quando utilizado de forma saudável, afinal de contas, quem não gosta de uma massagem no ego de vez em sempre!

Sirley Bittu

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Quando os sentimentos se tornam inadmissiveis

Em tibetano, a palavra Chog Shes significa aceitação da vida simplesmente como ela é, isto é, manter um relacionamento direto com nossas experiências sejam de alegria, medo, expectativas ou ressentimentos. Chog Shes é, portanto, a ausência de neurose, pois, quando estamos neuróticos, fazemos exatamente o contrário: rejeitamos a vida como ela é.
 
Em geral, quando algo nos desagrada, nossa primeira reação é dizer: Não acredito!. Na tentativa de não sofrer, buscamos, sem nos dar conta, métodos para nos anestesiarmos da frustração eminente. Alguns desses métodos podem funcionar temporariamente, mas quando somos tomados pela indignação estamos fadados a sofrer mais, pois estamos exagerando, pondo fogo no fogo de emoções que já estão fervilhando dentro de nós.
 
Quando lidamos com as emoções tal como elas chegam até nós, começamos a atenuar nossa visão neurótica da vida. O segredo está em não resistir ao que emerge em nós e, ao mesmo tempo, saber não adicionar algo a mais a esta experiência.
 
Mas não é tão simples assim, uma vez que fomos educados para sermos bons e eficientes e, por isso, aprendemos a ver nossos defeitos como inaceitáveis!
 
Não aprendemos a nos auto-acolher ou a termos compaixão por nós mesmos. Como não sabemos como lidar com nossos defeitos, passamos a rejeitá-los, e rejeitando a nós mesmos, rejeitamos a vida!
 
Podemos reconhecer que estamos nos perdendo quando exageramos nossas reações emocionais. Por exemplo, quando nos pegamos dizendo: Eu não devia estar sentindo isso, Não acredito que fiz isso de novo, Que vergonha, nunca mais quero mostrar minha cara ou mesmo Que raiva que ele fez isso comigo de novo...

Se algo é visto como inaceitável, não tem reparo nem negociação. Então, instintivamente escondemos e negamos estes impulsos inaceitáveis. Assim, mais uma vez nos afastamos de nós mesmos.
 
O medo de não ser capaz de lidar com nossa sombra ou de sermos excluídos pelo outro, caso ele a veja, nos leva cada vez mais a negar nosso lado não desenvolvido. O que não combina com o desenvolvimento do nosso ego ideal, torna-se sombra. Neste sentido, na medida em que procuramos ser bons e fazer o bem, vamos reforçando uma imagem idealizada de nós mesmos. Desta forma, vamos criando polarizações cada vez mais distintas: sou assim e não assado. Vamos empurrando para longe de nós o que não somos e sem nos darmos conta, deixamos de cuidar de nossas sombras!
 
Por isso, quando surgem os sentimentos inadmissíveis, temos a oportunidade de encarar de frente o que, até então, estávamos evitando. Só quando aceitamos sentir o inadmissível, voltamos a ser ‘um’ em nosso mundo interno. Dizem que Jung teria perguntado a um de seus pacientes: Você prefere ser inteiro ou bom?

Bel Cesar

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

A vida é muito mais do que posso ver...

Nunca deixe que a aparencia das coisas determine o que voce pode ou não pode fazer. Jamais permita que aquilo que voce consegue ver com os olhos determine as suas crenças e faça voce acreditar que não existe nada mais alem. Permita sempre que seus olhos espirituais levem voce abaixo da superficie. É lá que voce vera e conhecerá a verdade. Enquanto não olhar a sua vida e a de todos à sua volta com sua visão espiritual, vai continuar se confundindo com as aparencias de falta e desordem.

Tudo aquilo que voce ve no mundo exterior possui um significado interno. No meio de cada fato há uma causa oculta. No cewrne decada experiencia, decada situapção, de cada circunstância, existe uma verdade invisivel. Para cada coisa, or mais feia, desagradavel ou desconcertante que possa ser, existe um significado verdadeiro que representa a atividade do espirito. Porque o espirito é a nossa verdadeira identidade. Isso também se aplica a voce. Há uma verdade com relação a voce que talvez tenha passado despercebida. Existe uma causa pela qual voce está vivendo. Há um significado por baixo do seu exterior fisico que representa sua atividade espiritual. Para ver essa atividade é preciso desenvolver uma visão espiritual. Até conseguirmos isso, podemos ser enganados pelas aparencias! Ver a presença esiritual em todas as coisas é conhecer a verdadeira natureza de Deus. Conhecer a natureza de Deus é se conhecer.

Iyanla Vanzant

domingo, 19 de setembro de 2010

Sua vida é um sonho? Fisica quantica e experimentada


Uma das coisas que nos define a realidade como a conhecemos é a percepção da continuidade tempo e do espaço. Costumamos diferenciar o que é sonho do que é realidade quando estamos em estado de vigília.

A nossa lógica linear e percepção material, entre outras coisas, servem para que não nos percamos num universo quântico de possibilidades infinitas. Quando acordados localizamo-nos então no "colapso da matéria" como dizem os físicos quânticos e não em ondas de possibilidades como supostamente ocorre nos sonhos.

No universo da matéria, ou quando estamos acordados, a questão, a saber, é que absolutamente todos os cenários que vivenciamos dependem da decisão do olhar do observador. Este escolhe o que irá "colapsar" num evento material, ou seja, em um algo físico. Tanto as ondas, que pelo olhar do observador organizam-se em eventos prováveis, como o colapso do arranjo das ondas (pré-realidade material) faz parte de atitudes altamente criativas das nossas mentes/consciência.

Dentro dessa percepção, o consenso coletivo tem enorme responsabilidade para que a realidade física esteja como está. Mesmo que esta escolha seja sonambúlica ou inconsciente, ela esta a todo o momento acontecendo e é poderosa. Somos todos co-responsáveis pelos eventos da nossa realidade, bem como pelo estatus físico do planeta. Estamos mentalmente interligados num amplo processo criativo de manifestação.

Se você por acaso você não sabe o que quer, não esta nem aí para nada, ou mesmo se sente incomodo com os rumos das situações que presencia, é bem provável que seja mais uma consciência contaminada ajudando inconscientemente a fortalecer o "colapso" de algum sonho que não seu.

Reiterando, se você não estiver convicto e alinhado consigo mesmo, existe a chance quase certeira de você estar infeliz vivendo um desvio de seu percurso por falta de atenção. Pode ser que neste momento sua vida não faça o menor sentido a você apenas pela falta de capacidade de encontrar-se com o seu centro interior, pela a falta de conhecimento de como ler a si mesmo e acima de tudo de honrar-se.

Uma das metas existenciais evolutivas da humanidade é o desenvolvimento do controle deliberado das nossas vidas, ou seja, a consciência sobre o que a nossa unidade maior deseja manifestar. Jung chamou essa unidade maior de Self.

O que dá sentido as nossas existências é o assunto principal e primeiro que devemos encontrar. Assim que encontrado, fazer valer.

Evite, portanto, cometer enganos, pois os mais variados rumos de vida são desenfreadamente ofertados. Desde os que fazem algum sentido, aos que estão literalmente fora do rumo... Sedução e direcionamento sobre o importante a seguir não faltam. Dogmas religiosos, sociais, estratégias de marketing, enfim, tudo parece ser uma venda e/ou imposição sobre como você deveria experenciar a sua jornada terrena.

Muitos direcionamentos podem nos oferecer o verdadeiro sentido da existência, mas infelizmente não é sempre que isso ocorre. Como sabemos, existe muita imposição de metas e regras e por vezes fica difícil de discernir o entre o certo e o errado e pior, entre o que julgamos ser correto, mas que não é o certo para nós. Por outro lado, também há muita possibilidade solta por aí e que para um bom observador, independente, pode servir como ingredientes de um "bolo" a ser criado.

As mais diversas crises costumam ocorrer quando não estamos no caminho do coração. Insatisfações quando deflagradas promovem correção de metas e nessas ocasiões os cenários conhecidos costumam mudar de modo surpreendente. Por vezes assustador.

Parece como se estivéssemos num terremoto em que pessoas vão embora das nossas vidas, mudamos de casa, de país, de profissão, de parceiros, etc. Às vezes nos apegamos aos "cacos" para nos assegurarmos em algo conhecido retardando a vinda do novo que nos espera um passo a frente. Mesmo quando se almeja a manifestação do sentido maior, pode ser que a principio nada consigamos ver com clareza. Medo, dor e desespero frequentemente obscurecem a nova realidade que se desenha. Poucos são aqueles que entendem o processo com a mente aberta e otimismo, postura esta, mais alinhada com o verdadeiro principio criativo da mudança.

Os mais variados exemplos podem ser explanados. Desde pessoas que se seguraram evitando a transformação do que literalmente sofreram e ainda sofrem... Até as pessoas que se abriram para o novo e puderam passar pelo estranho caminho do "não sei" abrindo-se para que o sentido maior cruzasse com a sabedoria de sempre, os seus caminhos.

Não é simples e nem fácil essas jornadas de transformação e de resgate de si mesmo, mas invariavelmente, sempre que ocorrem deveriam ser vistas como chances divinas de resgate a alinhamento de propósitos.

Onde entram os sonhos nessa questão existencial? E afinal, para que e porque sonhamos? O que ocorre em nossas mentes, em nossos mundos interiores quando sonhamos? Como fica a percepção de realidade e porque quando estamos sonhando tudo tem uma lógica diferente da nossa daqui, mas no sonho possui sentido?

Quando sonhamos temos uma seqüência lógica guiada pelos nossos sentimentos. Todas as imagens que aparecem são definidas pelos sentimentos que estamos vivenciando. Resumindo, os cenários são reflexos das nossas atitudes mentais de encontro com o que sentimos e buscamos.

De acordo com Freud, os sonhos são a tentativa de solucionar conflitos em relação aos desejos não satisfeitos. Jung já observa que nos sonhos podemos entrar em contato com arquétipos universais em busca da nossa evolução. Outros teóricos definem os sonhos de outras maneiras. Penso que todas as explicações são validas e que todas dentro desta ordem de compreensão possuem algo em comum que é a experenciar de modos e maneiras diferentes tentativas de resolver questões existenciais. Fazemos isso vivenciando versões de realidades por intermédio dos nossos sonhos.

Pela visão da física quântica, os sonhos seriam a experimentação em ondas, das possibilidades a serem vivenciadas e materializadas aqui neste plano. Seriam o teste de realidades prováveis no intuito de facilitar o conhecimentos de nós mesmos e portanto, das nossas escolhas... Ou a vivencia, quem sabe, da nossa consciência em laminas de realidades, tão físicas quanto essas nossas, porém em outras dimensões.

Veja que de acordo com este preceito, um vidente pode ver algumas dessas ondas de possibilidade que estão mais próximas de se materializarem e a partir daí fazer a sua vidência como um fator concreto a ser colapsado, isso antes de ser efetivamente escolhido pelo observador para este intento.

Sonhos são versões de realidades onde nos representamos dentro de um simbolismo único e totalmente compreendido pelo sonhador no momento sonhado.

Existe muita especulação sobre a arte do sonhar. Existem os sonhos lúcidos, os sonhos compartilhados, os sonhos premonitórios, as experiências extrafisicas e por aí vai.

Creio que sempre que "sonhamos" estamos vivenciando realidades tão vividas como estas nossas.

Penso que nessas experimentações incluem-se nossos sonhos/vida daqui, ou seja, nossas experiências. Em resumo, estamos nos experimentando agora e sempre. Estarmos lúcidos, com ações deliberadas e sem medo de entrar em contato direto e responsável com o quanto podemos, parece ser a nossa questão maior. E enquanto isso não acontece continuamos na roda, pertencendo aos sonhos dos outros, acordando vez por outra em crise para retificar, na sorte de quando isso ocorre de fazemos bom uso desses momentos.

Silvia Malamud

sábado, 18 de setembro de 2010

Não tente, faça

Quando tentamos algo, quando dizemos: Tentarei tal opção, inconscientemente deixamos uma brecha para fugir, desistir ou frustrar-se perante nossa "tentativa". Qualquer novo empecilho é capaz de nos desestimular do que queríamos. Quando tentamos, jogamos como numa aposta, em que as chances de perder são maiores do que a de ganhar.
 
Quando vivemos "tentando" ficamos dando tiros no escuro na esperança de acertar num golpe de sorte. A vida é complicada demais; sorte existe mas, não devemos contar com ela. Para termos mais opções devemos "criar" mais opções. Para nos destacar, temos que ser diferentes dos outros, se não seremos apenas mais um. Para termos bons sentimentos, devemos emanar nossos bons sentimentos àqueles a nossa volta. Para estamos em paz devemos plantar a paz, a princípio em nossos próprios corações.
 
Quando fazemos, fazemos com convicção chegando a ter certeza do sucesso de nosso intento. Nos desdobramos, quebramos barreiras internas que nos fazem crescer e nos dão energia e incentivo para continuar buscando. Quando dizemos: Eu farei! damos certeza a nós e aos que estão a nossa volta daquilo em que acreditamos, nos comprometemos com nosso projeto e vivemos pra ele.
 
Claro que existem os erros, que 80% dos casamentos terminam antes de 5 anos. Que 95% das novas empresas quebram em menos de 2 anos. Que 90% das pessoas à nossa volta são neuróticas. Que 85% das pessoas que trabalham detestam suas funções. Que 75% de nós temos sérios problemas com nossa família.
 
Mas abordamos o que é negativo e maioria, como se fôssemos obrigados a fazer parte da regra. Ser somente mais um. 20% das relações são sólidas e sinceras, 5% das novas empresas prosperam e contribuem com a economia do país, de cada dez pessoas que conhecemos encontramos uma sensata, 15% de quem trabalha está feliz em suas funções, 1/4 das pessoas tem uma boa relação com sua família.
 
Só nos resta escolher o que buscamos:

"Ser regra ou ser exceção".

Alex Marq

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

O olhar

O pensamento objetivo é o olhar do Alto. Um olhar livre, aquele que vê. Sem esse olhar pousado em mim, e que me vê, minha vida é uma vida de cego, que vai aonde a empurra o impulso, sem saber nem como nem por quê. Sem esse olhar pousado em mim, eu não posso saber que existo.
Tenho o poder de elevar-me acima de mim mesmo e de ver-me livremente... de ser visto. Tenho a faculdade de impedir que meu pensamento seja escravizado. Para isso é preciso que ele se desprenda de todas as associações que o retêm cativo, passivo. É preciso que corte os fios que o ligam a todas as imagens, a todas as formas; é preciso que se liberte da atração constante do sentimento. É preciso que ele sinta o poder que tem de resistir a essa atração, de se ver elevando-se todo, progressivamente, acima dela. Nesse movimento ele se torna ativo; ele se ativa purificando-se; e assim alcança um objetivo, um único objetivo: pensar “Eu”, realizar “quem Eu Sou”, entrar nesse mistério.
Se não, os pensamentos não são mais que objetos, ocasiões de escravidão, redes nas quais o pensamento real perde seu poder de objetividade e de atividade voluntária. Perturbado pelas imagens, as palavras, as formas que o solicitam, ele perde sua faculdade de ver. Perde o sentido do Eu. Então, eu não sou mais que um organismo à deriva. Um corpo privado de inteligência. Sem o olhar, sou obrigado a retornar ao automatismo e à lei do acidente.
Esse olhar a um só tempo me situa e me liberta. E nos melhores momentos de recolhimento, alcanço um estado onde me é dado conhecer, sentir o benefício desse olhar que desce sobre mim, que me abraça. Eu me sinto sob o resplendor desse olhar.
A cada vez, o primeiro passo é o reconhecimento de uma carência; sinto a necessidade de um pensamento. A necessidade de um pensamento livre voltado para mim, para que eu tome realmente consciência de minha existência. Um pensamento ativo cujo único propósito, único objeto é - “Eu”... reencontrar-Me.
Esta é minha luta: uma luta contra a passividade de meu pensamento. Uma luta sem a qual nada de mais consciente poderá encontrar lugar, ou nascer. É uma luta para sair da ilusão do “eu” na qual eu vivo, para aproximar-me de uma visão mais real. No seio dessa luta, cria-se no caos uma ordem, uma hierarquia: revelam-se dois planos, dois mundos. Enquanto não há mais que um só plano, não pode haver visão. O reconhecimento de outro nível, esse é o despertar do Pensamento.
Sem esse esforço, ele recai em um sono povoado de palavras, de imagens, de noções estabelecidas, de saber aproximativo, de sonhos e redemoinhos diversos. É o pensamento de um homem sem inteligência. É terrível dar-se conta de repente de que se viveu sem pensamento próprio, independente. Sem inteligência. Sem nada que veja o que é real. Sem ligação, portanto, com o mundo do Alto.
É em minha essência que eu me reúno Àquele que vê. Se pudesse manter-me ali, eu estaria na fonte de algo único, estável, na fonte daquilo que não muda.

Jeanne de Salzmann
23 de julho de 1958

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Ainda


... sobre casamentos admito que, pelo menos nesse campo, sou romântica. Gosto da ideia de ser pedida em "casamento" , de colocar uma aliança em meu dedo que corresponda a ele. Não como anel, nó, e sim laço, como disse sabiamente o poeta Quintana, que via laços como abraços, acolhimento, não como nós , que mais servem para sufocar. E principalmente de saber que alguém me quer ao seu lado, não como posse, mas como companheira. Ao lado, bem escrito, não atrás nem na frente. Nem empurrando, nem puxando, passo igual. Isso lembra outra palavra que gosto: igualdade. E outro gesto que amo: mãos dadas.

O problema, sinto, vem da rotina. Não exatamente dela, mas da nossa falta de atenção no dia-a-dia. Do acostumar-se. Até a mais pura arte se torna banal se deixamos nosso olhar interno acostumar-se com ela. Até o mais tenro sabor perde a graça, mesmo o do beijo. Na automatização das coisas, desinteresse. No ver o outro não como destaque e importância, não como peça indispensável, e sim como pano de fundo. Do se deixar levar. Do esquecer o quanto as palavras nos fazem bem - ou mal (lembram-me facas, que podem nos ajudar ou ferir). Relacionar-se , bem diz o nome, é abrir o livro da vida e ler a mesma coisa, escrever a quatro mãos, sempre igual , mas sempre diferente. E isso pede o olhar do amor. O olhar atento de criança. O meu olhar, como sou, não o vedado pelo tempo, pelo simples passar das horas. O sentir o coração palpitar diferente quando o outro chega. Melhor: sentir o coração palpitar na eminência do encontro. E de ver no outro o que ele é. Como ele é. Como ele está só pelo olhar ou pela voz. E compartilhar com ele o que temos de melhor. Amar é somar, nunca dividir, a não ser a fatia do bolo, o último pedaço de doce. Ou subtrair, a não ser tristezas. Piegas? O amor é. Piegas, brega, cafona, o que for. O que precisar ser, o que quiser ser. Porque pede que sejamos simples. Que sejamos abertos. Que sejamos nós. Honestos. Puros.

Um exemplo? Beijo meu filho todo dia com um sentimento maior. Olho-o como se fosse a primeira vez, como se fosse uma. Como se fosse a última. E é disso que estou falando. E isso não pede treinamento e sim, emoção. Atenção. E desprendimento. Sim, porque para deixar que o outro tenha essa importância em mim, deixo-me um pouco de lado. Abro espaço. Arredo egos. Faço dele algo maior. Ou pelo menos de mesmo peso e medida que eu - o que, por vezes, é muito difícil. Desprender-se de nós é difícil. Pode ser mais fácil em termos materiais, deixar para trás coisas que se gosta, mas não quando se conjuga espontâneamente o verbo amar, o verbo querer.

Gosto das descrições do que se espera do outro. São palavras bonitas, melhor ainda se bem vividas: companheirismo - ser companheiro de alguém é estar do lado dele, torcendo, mesmo que só em pensamento, "na alegria e na tristeza"; cumplicidade, que vem de cúmplice, penso, o que pede uma integração para lá de perfeita, um sonhar junto. Pede aceitação, outra palavra forte, do outro como ele é, mas não de forma dura, não imposta, nem fantasiada e fraca, e sim, respeitada. E alegria, o que me embala todo dia, meu combustível de sobrevivência. Como se um belo sorriso operasse milagres. Quem sabe um terno olhar.

Piegas? O amor é. Piegas, brega, o que for. Porque pede que sejamos simples. Que sejamos abertos. Que sejamos verdadeiros. Que sejamos transparentes. Que nos entreguemos por completo, confiantes, como quem fecha os olhos e vai. E mais tanta coisa que parece fácil, mas não é. Ler sobre ele, escrever sobre ele pode ser fácil. Pode ser eterno.

E vou ao extremo de meu romantismo, com gotas de ingenuidade: "até que a morte nos separe"...

Joyce Diehl