Meu pavio é curto, não me acenda, não me atice. Não
me venha com tolices, eu explodo, viro bicho, deixo sair as imundícies.
Sou flor; para quem sabe enxergar, para as almas
podres sou flor carnívora, devoradora, egoísta.
Cada um sabe de sua alma, o exterior é arte;
cada um contempla com a visão e limites que lhe foram dados.
Há os que não vêem além, profundo, suas vistas são curtas, retas, internas.
Não posso mostrar meus pontos e cores para pessoas que enxergam a si mesmas no
reflexo de minhas telas.
Sou crucificada, condenada, muitas vezes injustiçada, na maioria não faço nada,
não deveria me preocupar tanto com os outros, fazer alarde de meus achados,
compartilhar de suas bebidas, não posso me entorpecer, serei taxada de bruxa,
filha do diabo, me tirarão de minha casa, de minhas vestes, me jogarão na
desgraça, ao julgamento de seres ignorantes... pobres criaturas, pobres seus
espíritos, as santas e curandeiras sofrem pelos caminhos de pedra, sofrem pelas
doenças alheias, pelo que tentam passar e não conseguem, pelas almas que se
perdem... mas sei que não sou santa, muito menos bruxa, não gosto de rótulos de
pré conceitos, eu sigo meu caminho, mas faço chás para curar a dor, levo
flores, amor, decoro e enfeito teu recanto, não me importo de dormir em
qualquer canto, mas me deixe no meu, e respeite o meu...
O meu canto! As minhas crenças, minhas manias.
Eu canto, beijo danço, mas grito, revido, choro, encho teu ouvido, acho tuas
feridas, piso nos teus calos, eu boto para cima quem me quer bem, mas boto no
chão, tenho como morto na minha vida aquele que é injusto, grosso e me causa
mais feridas.
As minhas já me bastam, não me negative, não me mine com as tuas. Ou me peça
perdão, mas não venha no dia seguinte, como se nada tivesse acontecido, me
estender a mão.
Carolina Salcides
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