sábado, 27 de outubro de 2012

Carolina Salcides




Meu pavio é curto, não me acenda, não me atice. Não me venha com tolices, eu explodo, viro bicho, deixo sair as imundícies. 

Sou flor; para quem sabe enxergar, para as almas podres sou flor carnívora, devoradora, egoísta. 

Cada um sabe de sua alma, o exterior é arte; cada um contempla com a visão e limites que lhe foram dados. 


Há os que não vêem além, profundo, suas vistas são curtas, retas, internas.

Não posso mostrar meus pontos e cores para pessoas que enxergam a si mesmas no reflexo de minhas telas.

Sou crucificada, condenada, muitas vezes injustiçada, na maioria não faço nada, não deveria me preocupar tanto com os outros, fazer alarde de meus achados, compartilhar de suas bebidas, não posso me entorpecer, serei taxada de bruxa, filha do diabo, me tirarão de minha casa, de minhas vestes, me jogarão na desgraça, ao julgamento de seres ignorantes... pobres criaturas, pobres seus espíritos, as santas e curandeiras sofrem pelos caminhos de pedra, sofrem pelas doenças alheias, pelo que tentam passar e não conseguem, pelas almas que se perdem... mas sei que não sou santa, muito menos bruxa, não gosto de rótulos de pré conceitos, eu sigo meu caminho, mas faço chás para curar a dor, levo flores, amor, decoro e enfeito teu recanto, não me importo de dormir em qualquer canto, mas me deixe no meu, e respeite o meu...

O meu canto! As minhas crenças, minhas manias.

Eu canto, beijo danço, mas grito, revido, choro, encho teu ouvido, acho tuas feridas, piso nos teus calos, eu boto para cima quem me quer bem, mas boto no chão, tenho como morto na minha vida aquele que é injusto, grosso e me causa mais feridas. 

As minhas já me bastam, não me negative, não me mine com as tuas. Ou me peça perdão, mas não venha no dia seguinte, como se nada tivesse acontecido, me estender a mão.

Carolina Salcides

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