segunda-feira, 21 de maio de 2012

Libertação


Pensem numa criança pequena. Foi lhe dado provar uma droga. Quando ela cresce, todo o seu corpo fica louco pela droga. Viver sem ela dá uma dor tão grande que é preferível morrer. Você e eu, como essa criança, tivemos essa droga que se chama “aprovação”, “apreciação”, “sucesso”, “aceitação”, “popularidade”. Uma vez que tomou a droga, a sociedade pode controlá-lo, você se tornou um robô.

Querem ver em que os humanos se robotizaram? Escutem isso: “Oh, como você está bonito!” E o robô incha-se de orgulho. Eu aperto o botão da apreciação e ele fica lá em cima. Então aperto outro botão, o da crítica, e ele vai no chão. Controle total. Somos tão afetados por isso! Tão facilmente controláveis. E quando privados disso, ficamos aterrados, temerosos de cometer erros de que as pessoas riam de nós.

(SE VOCÊ DESEJA SER LIVRE PROSSIGA A LEITURA DO TEXTO, CASO CONTRÁRIO PARE POR AQUI.)

Acham que Jesus Cristo foi controlado pelo que as pessoas pensavam ou diziam dele? Pessoas acordadas não precisam dessa droga.

Quando você comete um erro ou é rejeitado, sente um tremendo vazio. É tal a solidão, que você volta se arrastando, implorando aquela droga chamada encorajamento, aceitação, e continua a ser controlado. Como sair disso? Como resultado de ter tomado essa droga, você perdeu a sua capacidade de amar. Sabe por que? Porque não pode mais ver nenhum ser humano. Você só toma consciência de que eles o aceitam ou não, aprovam ou não. Você os vê como uma ameaça a sua droga ou como apoio a ela.

Pense nos políticos. Os políticos, frequentemente, não veem as pessoas de maneira alguma. Eles veem os votos, e se você não é um apoio nem uma ameaça a que eles tenham votos, nem mesmo o notarão.
Homens de negócios veem só dinheiro, não veem as pessoa, só assuntos de negócios.

Nós não somos diferentes, quando sob efeito dessa droga. Como pode amar o que você nem mesmo vê? Quer se ver livre da droga? Tem que arrancar esses tentáculos para fora de seu sistema. Eles chegaram aos seus ossos. Esse é o controle que a sociedade exerce sobre você. Se for capaz de fazer isso, tudo será igual, mas você terá se desprendido. Estará no mundo, mas não será mais do mundo. Isso é aterrador.

Como sair dessa? É preciso encarar o temor. Você tem que entender que não pode viver sem o beneplácito das pessoas. Quer amar as pessoas? Morra para elas. Morra para a sua necessidade de pessoas. Compreenda o que a sua droga está fazendo a você.

Seja paciente consigo mesmo. Depois chame a droga pelo nome, é um estimulante artificial. Você quer realmente gostar de viver? Saborei os sentidos, a mente. Aprecie seu trabalho, a natureza, vá à montanha e aprecie as árvores e as estrelas, a noite. Mande as multidões para longe. E você estará completamente só. Enquanto o amor nascerá na solidão. Chega-se ao país do amor passando pelo país da morte. E você compreenderá que o seu coração o trouxe a um vasto deserto. No começo padecerá solidão. Você não está acostumado a gostar das pessoas sem depender delas.

No fim do processo, você poderá vê-las. Então verá que o deserto de repente se transformará em amor. E haverá música em seu coração. E será primavera para sempre. Dê a si mesmo o alimento adequado. Chame a droga pelo seu nome e seja paciente, do mesmo modo que faria com um viciado. E quão poderosa será esta oração.

Pense em alguém de cuja aprovação você pensa que precisa. Cuja apreciação você quer. Veja se consegue compreender como, na frente dessa pessoa, você perdeu a liberdade. Pense em alguém de quem você precisa para amenizar a dor de sua solidão. Pense como diante dessa pessoa, você perdeu a liberdade. Você não é livre! Não ousa ser você mesmo!

Você não tem de impressionar ninguém, nunca mais. Está completamente à vontade com todo mundo, não mais deseja nada de ninguém. O não cumprimento dos seus desejos não o faz infeliz.

Quando você não tem de se defender de mais ninguém, não sente a necessidade de se desculpar. Nem de se explicar. Não tem de impressionar ninguém. Não se incomoda com o que dizem, com o que pensam. Não se incomoda. Não se deixa afetar. Então o amor começará. Mas só depois disso.

Texto transcrito do livro Caminhar Sobre as Águas de Anthony de Mello

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