Osho,
Você é a única pessoa iluminada neste ashram? Caso seja, é impossível iluminar-se ou ficar iluminado perto de uma pessoa iluminada?
“Desde que me tornei iluminado, nunca mais encontrei alguém que não fosse iluminado. Você só vê aquilo que é. Antes de me iluminar, acontecia o mesmo comigo – o mundo todo me parecia adormecido, na escuridão, na morte, não iluminado, porque você está sempre se refletindo em todo lugar. Todas as pessoas são apenas espelhos; você vê a si mesmo. Portanto, não se preocupe com os outros; pense em si mesmo. Este deve ser o seu problema.
Os outros não são problemas seus. Se são iluminados ou não, o que lhe interessa? Por que você teria que se preocupar? Se alguém quer permanecer não iluminado, é absolutamente da conta dele decidir sobre isso. Se quiserem, brincar com o jogo de não serem iluminados, está perfeitamente bem. Se você estiver cansado do mundo, cansado de sua angústia e ansiedade, e compreender que agora é hora de acordar, então não há dificuldade. Ninguém pode impedi-lo. A decisão de jogar como um ser não iluminado ou jogar como um ser iluminado é somente sua. É só uma questão de decisão interior.
Num único momento, num golpe, você pode se tornar iluminado. Não é um processo gradual, pois a iluminação não é algo que você tenha de inventar. É algo a ser descoberto. Já está aí. Não é uma coisa que você tenha de manufaturar. Se tivesse de manufaturar, é claro que levaria tempo; mas já está aí. Feche os olhos e sinta. Fique em silêncio e prove o sabor. A sua própria natureza é o que chamo de iluminação. Iluminação não é algo alheio, algo que está fora de você. Não está em nenhum outro lugar do tempo e do espaço. É você, é o seu próprio centro.
Eu estava hospedado na casa de Mulla Nasrudin. Uma manhã, quando tomávamos chá, a mulher de Mulla lhe disse, ‘Mula você me xingou terrivelmente esta noite enquanto dormia’. Mulla Nasrudin riu e disse: ‘Quem estava dormindo?’
Você não está dormindo. Tudo o que você está fazendo é o que escolheu fazer; a escolha é sua. E insisto em que a escolha é sua, pois sendo sua pode ser abandonada imediatamente, no momento em que você estiver pronto para escolher outra coisa. Você escolheu que a sua vida fosse dessa maneira – de angústia e de agonia.
Você certamente perguntará: ‘Por que alguém escolheria uma vida de angústia, de agonia, de ansiedade , de dor e de sofrimento? Por que? Por que escolheria uma vida de sofrimento?’ Existem razões, grandes razões, por trás disso: porque você só pode existir no sofrimento. No êxtase, você desaparece. Somente na dor você pode existir como entidade. Na graça você se perde, assim como uma gota se perde no oceano. Você teme perder-se a si mesmo; e por isso escolheu os caminhos da agonia. Eles criam o ego; quanto mais você sofre, mais sente que existe. Sofrer lhe dá uma definição. Faz com que você se sinta sólido; dá a sensação de que você está separado do todo. É por isso que você escolheu esse caminho. Ninguém escolhe a dor e o sofrimento diretamente. Indiretamente você escolhe ser egoísta. Por isso tem de escolher o sofrimento: sem sofrer você não pode ser egoísta. O ego não pode existir sem um mar de sofrimento ao seu redor. O ego é como uma ilha num mar de sofrimento.
Você está gostando do seu ego. Está fortalecendo-o constantemente, enfeitando-o, tornando-o mais valioso. Essa escolha é sua.
Quando puder ver que o ego está profundamente ligado ao sofrimento e que sem sofrer ele não pode existir, então, se você não quiser sofrer, terá de abandoná-lo, esquecer tudo sobre a linguagem do ego. A linguagem do ego é a linguagem da agonia. E então as coisas serão muito mais simples.
Ouvi contar:
Um garotinho, sentindo-se aflito no primeiro dia de escola, levantou a mão a fim de pedir permissão para ir ao banheiro. Voltou logo depois dizendo que não o havia encontrado. Despachado uma segunda vez, agora com uma direção explícita, ainda assim não conseguiu encontrá-lo. Na terceira vez, a professora pediu a um aluno mais velho que o acompanhasse. O sucesso coroou seus esforços. ‘Finalmente encontramos’, contou o mais velho à professora. ‘Ele estava usando as calças de trás para a frente.’
Esta é a situação. Vocês são seres iluminados, só que as suas calças estão de trás para a frente. Você precisa de um rapaz mais velho para guiá-lo, só isso. É para isso que serve um Mestre.
Nada está faltando; nada pode estar faltando. Você nasceu iluminado. Depois escolheu uma vida de sofrimento e agonia. Você pode viver iluminado e pode morrer iluminado. Depende de você. É uma questão de pura escolha.
‘Você é a única pessoa iluminada neste ashram?’ Neste ashram você não encontrará nem uma planta que não seja iluminada.
‘Caso seja, é impossível iluminar-se ou ficar iluminado perto de uma pessoa iluminada?’ Não é uma questão de estar perto de uma pessoa iluminada. Se você não quiser escolher, poderá permanecer aqui para sempre e não escolherá nunca. Se escolher ser iluminado, poderá se iluminar em qualquer lugar.
Eu sou necessário, um Mestre é necessário, porque o seu desejo de se tornar iluminado não é tão forte, não é muito intenso. Você não sente a urgência, não tem sede suficiente para isso. Não é a sua prioridade. Talvez esteja em algum item de sua lista de compra – quase no final. Se sobrar algum dinheiro, se sobrar algum tempo e as lojas continuarem abertas, aí você verá. Mas não é prioritário. Primeiro vem o mundo e depois vem Deus. É claro que assim você nunca chegará a Deus, pois o mundo é vasto – uma coisa leva a outra e assim por diante. Deus tem de ser a sua prioridade. Eu sou necessário apenas para ajudá-lo a pôr Deus na sua lista como uma prioridade, só isso. Se você mesmo puder fazer isso, então poderá se iluminar em qualquer lugar.
Tornei-me iluminado sem nenhum Mestre, portanto pode não haver qualquer problema para você. Se pôde acontecer comigo, pode acontecer com você. O Mestre não é uma necessidade. Tornou-se uma necessidade porque você é letárgico, sem vontade de mover-se para o êxtase; isto porque você está ligado demais aos caminhos do sofrimento e da angústia.
Você se tornou tão agarrado à prisão, que não quer sair dela. Mesmo que as portas fiquem abertas, você não foge. Fica enganando a si mesmo sem olhar para a porta. Fica fingindo que a porta está fechada e os guardas estão lá. Mas você quer ficar na prisão; está preso demais. Investiu muito nessa prisão. Na verdade, você começou a ver a prisão como seu lar. O mundo exterior parece estranho e selvagem e você sente medo.
As pessoas têm medo da liberdade e temem conhecer a vida mais profundamente. As pessoas têm medo de amar, têm medo de ser. Viveram muito tempo na escuridão, agora temem a luz – com medo, elas não são capazes de abrir os olhos; com medo, elas estão ofuscadas, seus olhos quase destruídos; com medo, porque suas vidas na escuridão tornaram-se rotinas estabelecidas. É seguro. Por que arriscar? Por que ir para o desconhecido e inexplorado?
A escuridão tornou-se muito familiar; de outro modo, você poderia se tornar iluminado em qualquer lugar. É o seu tesouro. Você pode reclamá-lo a qualquer momento. É surpreendente que não o tenha reclamado até agora.
E lembre-se: ninguém pode iluminá-lo contra a sua vontade. Se você decidiu ficar como é, então não há possibilidade; Todos os Budas, todos os Cristos e todos os Krishnas juntos não poderão fazer nada – e você continuará o mesmo que é. De certa maneira é bom que seja assim. Se pudesse ser iluminado por outra pessoa, contra a sua vontade, então a iluminação não teria muito valor. Não poderia ser uma liberdade. Se você pudesse ser forçado a iluminar-se, então seria uma escravidão, um cativeiro, um novo cativeiro.
Não, a escolha é absolutamente sua! Escolha ou não escolha, mas, lembre-se sempre, a responsabilidade é sua.
Existem muitas pessoas que se rendem a um Mestre só para deixarem de se sentir responsáveis. É um tipo errado de rendição. Render-se significa: ‘Estou pronto para cooperar’, só isso. Não significa: ‘Agora você é responsável, e se eu não me tornar iluminado você será responsável por isso’. Então, mesmo que haja rendição, nada acontecerá, porque em primeiro lugar a rendição aconteceu por razões erradas.
Quando você chega para ser iniciado por mim, todo o significado da iniciação é: você me diz, ‘estou pronto’, diz, ‘não impedirei os seus esforços. A sua ajuda será bem-vinda. Se você bater à minha porta me encontrará pronto para recebê-lo. Estou pronto para hospedá-lo; cooperarei; meu sim é total’. Este é o significado do sannyas, é o que significa render-se. ‘Não direi não; não resistirei, não lutarei com você’. Não é livrar-se da responsabilidade, mas simplesmente abandonar a resistência. Não abandonar a responsabilidade, mas só a resistência. E quando a resistência é abandonada, as coisas começam a acontecer por si mesmas. Eu sou apenas uma desculpa.
Um Mestre é, exatamente, o que os cientistas chamam de agente catalisador. Ele não ‘trabalha’; a sua presença é suficiente. Ajuda simplesmente por estar presente. Na realidade, um Mestre não pode fazer nada por você, mas a sua presença… Você sente mais confiança. Confia em mim porque não pode confiar em si mesmo. Se pudesse confiar em si mesmo, não haveria necessidade. Se você se bastasse, não haveria necessidade. Se você não se basta, não sente confiança suficiente, não se sente capaz de escolher o certo, não sente que está se movendo na direção certa, então a rendição ajuda muito. Confiar em alguém que você sente que sabe, que você sente que o ama, não o prejudicará; alguém que você sente que tem mais do que você. Confie nele. Segure em suas mãos.
Tudo o que acontece, acontece sempre dentro de você – e acontece sem que o Mestre faça nada. A iluminação não é algo que possa ser ‘feito’ por alguém. Você apenas relaxa e confia, e ela começa a surgir em você. É esperar pelo momento em que você possa dizer sim. Se você disser sim ao todo, ótimo, não há necessidade de um Mestre.
Se você não puder dizer sim a todo o céu – pode parecer vasto demais – diga então a uma janela. O Mestre é uma janela; abre-se para o céu. Leva-o para o céu. O Mestre é só uma passagem. Passe pelo Mestre confiando, amando, rendendo-se, e as coisas começarão a acontecer.
OSHO – Êxtase: A Linguagem Esquecida –Cap. 10 – pergunta 1
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