quinta-feira, 13 de setembro de 2012

O mundo do meio


Todo tipo de coisas me desviam para longe de minha ciência à qual eu acreditava estar dedicado firmemente. Através dela, queria servir à humanidade, e agora, minha alma, tu me levas para essas coisas novas. 

Sim, o mundo do meio, intransitável, multiplamente cintilante. Esqueci que cheguei a um mundo novo, que antes me era estranho. 

Não vejo caminho nem trilha. Aqui deverá tornar-se verdade o que acreditei sobre a alma, que ela sabia melhor seu próprio caminho e que nenhum desígnio lhe poderia prescrever um caminho melhor. 

Sinto que é tirado um grande pedaço da ciência. Deve estar certo, por amor à alma e por amor à sua vida. Dolorosa é apenas a idéia de que isto só aconteceu para mim e que talvez ninguém consiga tirar alguma luz daquilo que eu produzo. Mas minha alma exige esta produção.

Devo poder dizê-lo também só para mim sem esperança—por amor a Deus. Deveras um caminho duro. Contudo, aqueles eremitas dos primeiros séculos cristãos—o que faziam de diferente? 

E eram, por acaso,as piores e mais imprestáveis pessoas que viviam naqueles tempos? De modo nenhum, pois eram aqueles que tiravam a mais inexorável conseqüência da necessidade psicológica de seu tempo. 

Eles deixavam mulher e filhos, riqueza, fama, ciência—e se dirigiam ao deserto—por amor a Deus. Assim seja.

Carl Gustav Jung

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