"Depois que virei gente
grande, descobri, com lucidez embaraçosa, que alguns amores se afastam do nosso
alcance igualzinho ao que acontecia com aqueles balões que vi se distanciarem
cada vez mais, cada vez mais, cada vez mais. No início, a gente caminha todo
prosa, um pé de vida florido, pontinha do sonho amarrada ao pedaço de linha que
se chama esperança. Planos de jardim com girassóis, filho contente, cachorro,
horta, rede na varanda, e aquela mão segurando a nossa, estrada afora. De
repente, começa a ventar o vento que tira os sonhos do lugar, que faz o fio da
linha se desprender do dedo, que recolhe a ponte e deixa o abismo. Um vento
soprado pela desatenção, o descuido letal para os balões e os amores.
Há um momento sem sol em que a gente percebe que
o amor anoiteceu. O coração enxovalhado, ferido, está exaurido pela aflição de
tanto esticar-se para tentar alcançar o fio da linha que se soltou e amarrá-lo
de novo na pontinha dos sonhos. No fundo, ele sabe que não o alcançará: voa
longe demais da possibilidade de alcance. Se ainda insiste, buscando impulso
para pulos cansados, é porque aquele amor, exatamente aquele, ainda é tudo o
que ele mais deseja. Porque não sabe onde colocará as mãos, o encanto, o olhar,
depois daquele instante. Porque não lhe importa que outro amor venha ao seu
encontro. É aquele, aquele lá, que ainda o descompassa.”
Ana Jácomo
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