O texto é longo, mas vale cada frase! Já me animei a executar
um novo destralhe aqui em casa!!!!! Divirtam-se! “Destralhe-se!” Faz bem à
saúde mental e emocional livrar-se de tudo o que está intoxicando a vida, a casa e o trabalho… É
dever de casa: o primeiro trabalho que a psicóloga e arteterapeuta Rosângela
Cassimiro dá para os pacientes é arrumar o guarda-roupa, começando pelo maleiro
lá em cima, “que é infernal,” um lugar para onde se empurram todas as tralhas
inimagináveis da casa. Depois, ela pede que a pessoa vá descendo para as
extremidades direita e esquerda até chegar ao meio do guarda-roupa. “Para
arrumar tem que bagunçar,” dita ela, “tirar tudo para fora. Depois é escolher o
que vai ficar, doar, vender e queimar. Tem que separar o joio do trigo, comprar
caixas para deixar tudo arrumado. É preciso ‘destralhar’, pois a casa é a
representação simbólica da gente mesmo.” Na casa de Rosângela, até os objetos
da mãe, que já morreu têm lugar certo, uma caixa vermelha com fitas douradas.
“Organizar a vida é desbloquear a área mental e, consequentemente, organizar as
emoções, as perdas e fazer as despedidas internamente.” “Destralhar” é uma
tendência mundial depois de tanto consumismo. Muitos programas da TV fechada,
em vários canais, ensinam como organizar a casa e, consequentemente, a vida.
Nada de desordem externa, que leva à desorganização interna e faz a vida virar
um lixo! “Renovar rima com ‘destralhar’. E quem não quer renovar a vida?
‘Destralhar’ é liberar tudo o que impede o movimento de expressão e realização
no mundo. Em qualquer aspecto da vida”, assegura o arquiteto Carlos Solano,
mestre em feng shui e dos cursos da casa saudável. No livro Jogue fora 50
coisas, lançado pela Ediouro, a terapeuta norte-americana Gail Blanke garante
que “quando jogamos fora a bagunça física, libertamos nossas mentes. Quando
jogamos fora a bagunça mental, libertamos nossas almas”. Solano, por exemplo,
aprendeu com a benzedeira e amiga dona Francisca que vida nenhuma prospera se
estiver pesada e intoxicada. “E a casa também tem muitas toxinas. São elas:
objetos que você não usa, roupas que não gosta nem usa há mais de um ano,
coisas feias, quebradas, lascadas ou rachadas, plantas mortas ou doentes,
recibos, jornais e revistas antigos, remédios vencidos, meias velhas e furadas,
sapatos estragados. Ufa, que peso!”. Nem dá para encontrar nada no meio dessa
bagunça, mas com o “destralhamento” “a saúde melhora, a criatividade cresce e
os relacionamentos se aprimoram,” ensina. A arquiteta Adriana Gontijo se lembra
do tempo em que morou num apart-hotel, sem lugar apropriado para guardar todos
os objetos: “Foi uma época ruim, em que até adoeci”. ADEUS, bagunça! Arquiteta
dá dicas de como fazer uma faxina geral. Escolher uma área da vida é o primeiro
passo para iniciar a limpeza, de preferência numa tarde de domingo Não é tão
fácil quanto parece. É preciso tempo, disponibilidade e disciplina, mas que
nenhum desses três itens sirva de desculpa para continuar com a casa e a vida
em desordem. Comece numa daquelas tardes vazias e longas de domingo. A gaveta
do criado-mudo pode ser um bom início. É só abrir para perceber a bagunça:
pilhas usadas que um dia você pensou em levar para um lugar de descarte
apropriado, cartões de visita de pessoas que você nem conhece, montes de
bijuterias jogadas dentro da gaveta, emboladas, arrebentadas e não usadas há
tempos, algumas que você nem sabia que tinha. E as chaves do antigo
apartamento, as caixas de remédio vazias, os terços herdados da mãe que já
partiu, pequenas lembranças que ainda não deu para desapegar? E a lata de
biscoitos da mãe com linhas, dedais e agulhas? E os relógios que estão grudados
na memória afetiva? E os vidros de perfume vazios, além das amostras grátis das
perfumarias? A gaveta está a ponto de estourar de tanta tralha. Ai, socorro! Se
uma gaveta está assim, imagine o maleiro com coleções de jornais e revistas,
guardados, mas nunca lidos ou consultados. Pelo menos a árvore de Natal já
desceu de lá para ocupar lugar na sala, toda armada e decorada. Imagine a
cozinha com as velhas louças, as vasilhas com as asas bambas, os garfos tortos
e queimados que a ajudante esqueceu na panela quente. E a sanduicheira que não
fecha mais, o liquidificador e a panela de pressão antigos, que foram
substituídos por novos, mas ainda não descartados? E o vidro de alcaparras
fechado e vencido há mais de um ano? E as facas sem corte que não dá mais para
usar? Por que não levá-las a um amolador? Ah, Deus, onde tem o amolador de
facas neste mundo moderno e descompassado? Eles ainda existem? Sem contar o
escritório, com estantes que não aguentam mais de tantos livros, que espirram
edições ilustradas de quando o filho ainda era criança. E olha que faz tempo.
Os mais de 500 exemplares de LPs que o filho coleciona com tanto amor? E os
milhares de CDs em desordem pela casa? Onde estão as capas dos de Chico, Gil,
Caetano e Cazuza? É preciso coragem para sair dessa eterna bagunça, que inclui
roupas e mais roupas penduradas. Algumas não dá nem para ver, outras foram
compradas com a intenção de emagrecer para depois usar. E compre, compre,
compre sem ter como e quando usar. A cada mudança de estação, uma desculpa para
entupir o armário de roupas e sapatos novos, esses últimos agora estão debaixo
da cama, porque não há mais espaço no armário. Haja consumo! Casa
desintoxicada: Para ajudar na faxina da casa e fazer a vida fluir, a arquiteta
Adriana Gontijo dá algumas dicas sagradas. “Quando a gente faz o
‘destralhamento’, abre espaço para viver o presente de forma mais fluida. Dá
lugar para a prosperidade, fortalece o sentimento de confiança na vida.” Ela
conta o caso de uma cliente que vinha fazendo uma limpeza na casa dela, mas não
tinha muito tempo. Ia limpando muito devagar, nem dava para perceber os
efeitos. Então, chegou um desses feriados prolongados. Decidiu que não ia
viajar, mas fazer o “destralhamento” da casa. “Ficou uns três dias jogando fora
apostilas de faculdade, livros de colégio, cadernos, trabalhos premiados, mas
que não tinham mais sentido em sua vida atual. Separou os livros que ia doar,
jogar fora ou vender. Organizou tudo. Na semana seguinte, o chefe dela propôs
parceria num dos projetos da empresa. A vida da minha cliente deu uma guinada e
para mim essa ascensão na carreira foi significativa. Jogando fora coisas
velhas, ela deu espaço para a prosperidade profissional.” Adriana sugere também
escolher uma determinada área da vida que precisa ser trabalhada, como a
pessoal. “É preciso fazer uma limpeza de cartões e fotos antigas. Objetos que
ganhou. Se quer prosperidade, tire tudo o que está entravando, separe o que vai
dar. No lugar de antigas fotos, substitua por novas, de viagens que quer fazer.
Se é um cruzeiro, ponha a foto de um navio no porta-retratos, espalhe mensagens
novas pelo escritório, para renovar a vida.” No criado-mudo lotado de
bugigangas, acione a área dos relacionamentos se quiser um novo amor. Tire tudo
e coloque “objetos que formam um casal em cima do criado atraem relacionamentos
amorosos”. Segundo ela, as pessoas não gostam de jogar objetos fora, porque
acham que podem precisar um dia. “A gente não se permite, sente culpa. O ideal,
portanto, é escolher um ambiente. Arranje três caixas. Para a primeira vai tudo
o que você quer jogar fora, na segunda o que vai doar e na terceira, o que você
não sabe o que pretende fazer. Depois, faça as seguintes perguntas: há quanto
tempo não uso isso? Eu amo? Realmente, preciso disto? Se está em dúvida,
coloque na caixa do não sei e questione. Se me livrar desse objeto, o meu
sentimento de alívio vai ser maior do que um possível arrependimento? A questão
é: se você não usa há mais de um ano, se não ama nem precisa daquilo agora,
para que manter?” Ela diz que tudo tem um simbolismo. “Cada vez que você entra em
casa, os objetos transmitem mensagens do casamento que não deu certo, outros
objetos lembram uma época ruim. Mensagens que vão minando seu sentimento de
confiança na vida. Desintoxicar a casa significa abrir espaço para o novo e a
prosperidade. Viver o presente com fluidez.” ENERGIAS: Grudar no passado e ter
medo do futuro leva ao apego do que não tem mais sentido na vida. E nada de
desculpas de falta de tempo. Adriana sugere: “Em vez de sentar para ver TV,
arrume uma gaveta. Se fizer isso todo dia durante um mês, todas estarão em
ordem. Na semana que vem, você pode levantar meia hora antes para arrumar uma
estante, sempre com o propósito de desbloquear energias negativas e passadas,
para que o novo entre. É bom lembrar que um ambiente bagunçado gera confusão
mental”. Ela dá o próprio exemplo da época em que morava num apart hotel e não
tinha tempo nem espaço para organizar as revistas de arquitetura e todo o
material que sua profissão exige. “Sentia cansaço físico, não tinha vontade de
fazer nada, só de ficar quieta, e acabei adoecendo. Era um resfriado, nariz
entupido, até que mudei para um apartamento maior e fiquei mais leve e
disposta, atenta às oportunidades que a vida oferece. Além do mais, viver num
ambiente organizado faz a gente se sentir bem, mais alegre e bem- humorada.”
Quatro caixas e a liberdade: Ela usa a arte como ferramenta para a observação
do processo de autoconhecimento. Assim que o paciente entra no consultório, a
psicóloga Rosângela Cassimiro tem uma conversa e já separa o diário de bordo
para cada um e passa o dever de casa. “Tento alinhavar o físico, o emocional e
o mental. O melhor exercício é arrumar o guarda-roupa. Tive uma paciente que
começou arrumando o armário e se empolgou tanto que resolveu reformar a casa.”
A técnica de Rosângela é parecida com a de Adriana, mas inclui queimar o que
não serve mais, o que traz lembranças ruins. “Peço que a pessoa arrume quatro
caixas e ponha numa delas o que vai ficar, na outra o que doar, na terceira o
que vender. Na quarta, o que vai ser queimado. Quando digo para queimar, as
pessoas se assustam, porque ninguém está acostumado com fogo dentro, por
exemplo, de apartamento. Sugiro comprar uma daquelas bacias ou baldes de metal
para queimar o que precisa ser queimado. A gente deve criar o costume de ter
uma pira dentro de casa, pois já temos o elemento água nas torneiras.” Como
arteterapeuta, ela ensina aos pacientes como adornar caixas, que vão ficar
muito bonitas nos armários. “A limpeza energética é importantíssima também.
Depois que desceu com todos os objetos, que separou, é hora de limpar.” As
receitas, Rosângela aprendeu com o escritor indígena Kaká Verá: “Numa garrafa
Pet de dois litros, dilua duas colheres de amoníaco na água, para tirar bicho,
mofo, sujeira. Passe o pano no armário todo e depois lave-o em água corrente. O
segundo passo é colocar sal grosso em outra garrafa com água. Passe pelo
armário, lave o pano e vá para a última etapa, que é a de diluir essência de
alfazema em álcool de cereais, ponha um pouco na água, pegue um pano seco e
passe. Vai ficando tão boa a limpeza que dá vontade de passar também no chão.
Só depois suba com as caixas organizadas. A vida, então, começa a mudar no rumo
daquilo que você deseja. Mas é preciso definir as metas junto com a limpeza e a
organização”. Ela cita o caso de duas pacientes que “destralharam” a casa,
firmaram num propósito e, ao fim de alguns meses, conseguiram comprar dois
apartamentos, sem a ajuda de ninguém, a não ser delas mesmas. Ela avisa que o
processo de organização é ininterrupto, porque a vida flui. “Depois que você
começa, não consegue mais parar, porque ‘destralhar’ representa uma busca do
equilíbrio interno.” Obras inacabadas precisam ter fim: Desordem externa leva à
interna. É preciso repetir. O arquiteto Carlos Solano, que aprendeu muito com a
benzedeira dona Francisca e com os mestres orientais do feng shui, conta que é
comum para quem vive em um ambiente cheio de entulho se sentir cansado,
deprimido e desanimado. “Há fios invisíveis que nos ligam a tudo aquilo que
possuímos.” Ele aponta também possíveis efeitos do acúmulo de bagunça, como
sentir-se desorganizado, fracassado, limitado, apegado ao passado e também o
aumento de peso. No porão e no sotão, as tralhas viram sobrecarga. Na entrada,
restringem o fluxo da vida. Empilhadas no chão, nos puxam para baixo. Acima de
nós, provocam dores de cabeça. Sob a cama, poluem o sono.” Ele sugere fazer
perguntas úteis na hora de “destralhar-se”: “Por que estou guardando isso? Será
que tem a ver comigo hoje? O que vou sentir ao liberar isso? Depois vá fazendo
pilhas separadas para doar ou para jogar fora. E para ‘destralhar’ mais ainda
livre-se de barulhos, das luzes fortes, das cores berrantes, dos odores
químicos, dos revestimentos sintéticos. Libere mágoas, pare de fumar, diminua o
uso da carne e termine projetos inacabados”. Citando a sabedoria sagrada,
Solano diz: ‘“Se deixas sair o que está em ti, o que deixas sair te salvará. Se
não deixas sair o que está em ti, o que não deixas sair te destruirá’, arremata
o mestre Jesus, no evangelho de Tomé”. O arquiteto também tira da sabedoria
oriental a frase: “Acumular nos dá a sensação de permanência, apesar de a vida ser
impermanente. O Ocidente resiste a essa ideia e, assim, perde contato com o
sagrado instante presente”
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