quarta-feira, 16 de março de 2011

A importancia da boa companhia

Certa vez, Ananda se aproxima do Buddha e diz que a amizade é a metade do caminho espiritual. Ananda era um dos principais discípulos do Buddha e era seu atendente pessoal, alguém que constantemente estava perto dele. O Buddha ao ouvir o que Ananda acabara de dizer, repreende-o. "Não, Ananda! Não diga isso de modo algum!" E complementa: "A amizade é todo o caminho!"

Ter bons amigos e companheiros que encorajam e aconselham é, então, essencial. Devemos fazer todos os esforços para encontrar tais amigos e, uma vez encontrados, mantê-los.

Quando o Buddha diz “a amizade é todo o caminho!” nos dá a dimensão exata do que é cultivar bons companheiros. Não é mesmo?

Depois de ler esta pequena história pensei numa outra frase “me digas com quem tu andas que eu direi quem tu és”. Eu sempre impliquei muito com essa frase que meu pai cansou de repeti-la para me convencer a não andar com gente que não prestava. Eu achava, na minha adolescência, que era um julgamento tolo que ele fazia sobre as pessoas que eu escolhia como amigo. Dentro dessa frase ele exprimia preconceito, intolerância e um julgamento superficial.

Mas o tempo de rebeldia passou e eu mudei e vi que dentro dela também contém uma sabedoria, porque, se eu, por exemplo, ando com um sábio (dentro do que estamos falando “amizades no caminho”) intrinsecamente serei um sábio, ou, aprenderei com ele e serei influenciado por seus conselhos, não é mesmo?

Então vamos lá...Se as pessoas que estão juntas a nós dizem muito sobre nós, o perigo está exatamente aí, nessa lógica. Então, se ando com bandidos automaticamente serei bandido? E sofrerei as más influências dessa companhia? Sim, penso que sim.

Vejamos o poder da persuasão num exemplo. Quem foi casado ou é casado sabe que o casal meio que se mistura. Um acaba influenciando na personalidade do outro. Ou mesmo, numa amizade muito intensa acaba-se por absorver as idéias e a interpretação de mundo do amigo ou companheiro. Sem termos muita consciência disso, pois acaba sempre sendo uma relação de simbiose.

Recentemente alguém me contou que ficara casado por dez anos e há pouco tempo tinha separado da antiga companheira. E nessa nova fase, de ficar sozinho, percebeu que muitas das idéias e pensamentos que ele achava que eram dele, eram na verdade de sua ex-companheira. E quando tomou essa nova consciência surpreendeu-se ao perceber que ele mesmo não tinha um julgamento tão duro com relação a muitas coisas. E que estava mergulhado numa relação de dominação por muitos anos. Por isso mais uma vez voltemos à frase de Buddha “a amizade é todo o caminho”. Escolher bem com quem nos relacionar é fundamental.

Nesse mesmo contexto existe um o outro ponto de vista. Se formos inteligentes o suficientes poderemos extrair da má companhia(digamos então, experiências negativas) um aprendizado porque ‘cada pessoa acrescentará na nossa história de vida situações importantes de aprendizado’.

A pergunta é : estamos conscientes o suficientes para não sermos influenciados de forma negativa por pessoas que passam por nós ? Isso pode parecer irrelevante, mas isso de “aprendermos com cada pessoa que passa em nossas vidas” não dependerá do nosso estado pessoal de estarmos alertas e conscientes para isso ? E não ser influenciado pelo outro de forma destrutiva? Estamos aprendendo com o outro ou simplesmente sendo influenciados pelo outro?

Seguindo esse mesmo raciocínio existe outra frase interessante que completa esse ponto de vista, ela diz o seguinte “o outro mesmo na sua mediocridade nos ensina a não sermos medíocres”. Mas espera aí... Pergunto-me mais uma vez : em que medida se pode aprender com a mediocridade do outro ou ser influenciado por ela?

Uma amiga trabalhou num órgão público durante alguns anos. Antes de ir pra lá ela estudou teatro, leu muita literatura e vivia no meio artístico entre pessoas cultas e sensíveis. Um belo dia, eu a encontrei na rua e perguntei como andava a vida. Ela me respondeu: eu emburreci! Perguntei : mas porquê? Ela me respondeu: é simples, estou andando com gente burra!

Gostaria de terminar esse texto com a frase de W. Clement Stone “Cuidado com o ambiente que você escolhe, pois ele moldará você; cuidado com os amigos que você escolhe; pois você ficará como eles”.

Viver é muito perigoso, não ?

Leticia Cordeiro

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