sábado, 24 de março de 2012

Sob a sombra de um carvalho

Não há como substituir um velho companheiro.

Nada vale o tesouro de tantas recordações comuns, de tantos momentos difíceis vividos juntos, tantas desavenças e reconciliações; tantas emoções compartilhadas.

Não se reconstroem essas amizades.

É inútil plantar um carvalho na esperança de poder, em breve, se abrigar sob a sua sombra. 


O belo pensamento é de Saint-Exupéry, em seu texto "Terra dos homens", e nos remete a uma temática deveras importante: a construção de nossas relações com os outros. 

Convidamos você, neste momento, a lembrar de um grande companheiro de sua vida: um velho companheiro, um amigo, um pai, uma mãe, um irmão, irmã, etc. 

Passe uma revista rápida pelos anos de convívio e tente perceber como esta relação se formou e se consolidou ao longo do tempo. 

Lembre-se das tantas emoções compartilhadas, dos momentos felizes e dos momentos tristes. 

Certamente a cumplicidade, a amizade, o devotamento, não surgiram prontos, acabados. 

Certamente a confiança e o profundo apreço não nasceram repentinamente. 

Muito trabalho foi empregado aí, entre esses dois mundos de tantas afinidades, mas também de tantas diferenças. 

O carvalho plantado precisou de rega constante, esperançosa. Precisou de tempo, de sol e de chuva. 

Ambos hoje se abrigam sob sua sombra, depois de anos e mais anos de investimento mútuo. 

Assim, parece simples de se entender a afirmação de Exupéry, de que é inútil plantar um carvalho na esperança de, logo em seguida, imediatamente após o plantio, já poder desfrutar de sua sombra. 

A árvore leva tempo para se tornar frondosa. Porém, o tempo apenas não é suficiente. 

Que adiantam cem anos de solo infértil, de estiagem, de falta de sol? 

Não, um carvalho não cresce sem o cuidado da natureza, assim como uma relação de companheirismo não sobrevive se não for cuidada de perto, todos os dias. 

Por isso, se desejamos poder deitar e curtir a sombra de um belo carvalho, lembremos de tratá-lo todos os dias com toda nossa dedicação. 

O velho e bom companheiro de amanhã poderá ser o irmão das lutas de hoje, aquele com quem temos dificuldades, mas que temos tolerado, compreendido. 

O carvalho moço ainda tem pouca e vacilante sombra. Ora está aqui, ora está acolá, sacudido pelos ventos das tempestades. 

O carvalho moço ainda não se vê árvore, não se crê capaz de quebrar a luz do sol gritante. 

Mas se bem cuidado vai se fortalecendo, agigantando a copa, e se tornando frondosa árvore. 

O velho e bom companheiro de amanhã é o amigo que nos estende a mão hoje, e não permanece muito tempo na espera de outra que o ampare. 

* * * 

"Velho companheiro, de mil aventuras; 

Quantas experiências, vivemos os dois. 

... Coisas que me ensinaste, para nada serviam... 

Mas bem me dizias: servirão depois. 

Sempre me aconselhaste: na justa medida, 

Vai gozando a vida... Sem nunca esqueceres, 

De praticar o bem. 

Porque a gente só goza, na justa medida, 

Se ajudarmos outros, a gozar também". 

Redação do Momento Espírita com base em citação de Saint-Exupéry, do livro "Felicidade, Amor e Amizade", ed. Sextante e de trecho de poema de Olímpio C. Neves, poeta de Luanda. 

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